Entrevista
Arte e Cultura

Cândida Benjamim: a artesã que transforma miçangas e pérolas em arte com identidade própria

Cândida Benjamim: a artesã que transforma miçangas e pérolas em arte com identidade própria
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Aos 27 anos, natural do Município do Libolo, Província do Kwanza-Sul, e residente em Luanda (Belas), Cândida Avelino Benjamim carrega seis anos de dedicação ao artesanato um ofício que, mais do que sustento, se tornou cura, identidade e vocação.

A sua primeira criação surgiu em 2019: uma pulseira vermelha de macramé, inspirada num grupo musical que admira. A partir daí, o caminho abriu-se. “Sempre gostei de arte, desde pequena. Qualquer forma de arte mexe comigo”, conta. Mas houve um segundo impulso decisivo: a falta de oportunidades para pessoas com deficiência em Angola. “Percebi que eu precisava criar o meu próprio espaço.”

A natureza como professora

As raízes criativas de Cândida estão guardadas nas memórias da escola primária, quando lhe pediam para desenhar a natureza. “Amo a natureza. Busco nela inspirações que transmitam o amor que tenho por ela. É uma forma de ajudar na conservação do meio ambiente e de estimular outras pessoas a cuidarem dela também.”

O rigor do processo criativo exige tempo e paciência. Uma peça mais complexa pode levar três semanas a ser concluída. As cores, porém, não são escolhidas ao acaso: variam conforme o cliente. “Gosto de ser fiel à identidade de quem me procura. Quero que a pessoa se veja na peça.”

Bolsas de pérolas, colares de miçangas e uma ‘queridinha’ do público

Actualmente, Cândida dedica-se sobretudo à criação de bolsas de pérolas e colares de miçangas. A peça mais procurada? A bolsa de square, carinhosamente apelidada de “a queridinha”.

Mas o retorno do público não apaga os desafios. Um dos maiores, segundo diz, é desconstruir preconceitos. “É difícil fazer o cliente entender que a arte africana não é fetichismo. Há ainda muito desconhecimento sobre o valor da nossa cultura.”

Concorrência, clientes e o valor da arte

Para ela, a concorrência não é ameaça, é estímulo. “Motiva-me a ser ágil, criativa e competitiva.” Entre os seus principais clientes estão coleccionadores e turistas, públicos que, segundo relata, demonstram maior sensibilidade ao valor artístico das peças.

“Quem não conhece o valor da arte, nem sempre reage bem. O preconceito cultural pesa”, admite.

Arte que cura

O artesanato mudou radicalmente a sua vida. “Além de ser a minha principal fonte de renda, é uma terapia. Refugiei-me no artesanato num momento crítico e digo sempre que foi e é a minha cura psicológica.”

O processo de produção conta com o apoio das suas irmãs mais novas, enquanto a criação é totalmente solitária. Nas feiras e exposições, junta-se a uma pequena equipa de duas mulheres, também artesãs.

Redes sociais, Instagram e peças com alma

A divulgação nasce sobretudo nas redes sociais. “Ajudam-me a perceber o que o público gosta e a acompanhar tendências.” E se há uma plataforma que entrega resultados concretos, é o Instagram.

Cada peça tem um significado especial. “Dou o nome de uma pessoa importante durante o processo criativo. Cada pessoa na minha vida tem uma história, e é assim que represento o meu carinho por elas.”

Entre os pedidos mais inusitados que já recebeu, lembra, a rir: “Uma bolsa para maço de cigarros e isqueiro.”

O grande objectivo é lançar a marca Candy_Arts, conquistar o mercado nacional e, futuramente, chegar ao mercado internacional. “Penso em ter uma loja e expandir para além de Angola.”

A sua mensagem final é um apelo simples, mas profundo, a quem deseja começar:

“Começa agora. Começa com o que tens, mesmo que seja pouco. Começa!”

E deixa ainda um lembrete, quase um manifesto:

“O nosso trabalho é complexo. Não dês o preço, dá valor.”

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Veloso de Almeida

Repórter

Veloso estudou Comunicação Social no Instituto Superior Técnico de Angola (ISTA) e estagia como jornalista no portal ONgoma News.

Aos 27 anos, natural do Município do Libolo, Província do Kwanza-Sul, e residente em Luanda (Belas), Cândida Avelino Benjamim carrega seis anos de dedicação ao artesanato um ofício que, mais do que sustento, se tornou cura, identidade e vocação.

A sua primeira criação surgiu em 2019: uma pulseira vermelha de macramé, inspirada num grupo musical que admira. A partir daí, o caminho abriu-se. “Sempre gostei de arte, desde pequena. Qualquer forma de arte mexe comigo”, conta. Mas houve um segundo impulso decisivo: a falta de oportunidades para pessoas com deficiência em Angola. “Percebi que eu precisava criar o meu próprio espaço.”

A natureza como professora

As raízes criativas de Cândida estão guardadas nas memórias da escola primária, quando lhe pediam para desenhar a natureza. “Amo a natureza. Busco nela inspirações que transmitam o amor que tenho por ela. É uma forma de ajudar na conservação do meio ambiente e de estimular outras pessoas a cuidarem dela também.”

O rigor do processo criativo exige tempo e paciência. Uma peça mais complexa pode levar três semanas a ser concluída. As cores, porém, não são escolhidas ao acaso: variam conforme o cliente. “Gosto de ser fiel à identidade de quem me procura. Quero que a pessoa se veja na peça.”

Bolsas de pérolas, colares de miçangas e uma ‘queridinha’ do público

Actualmente, Cândida dedica-se sobretudo à criação de bolsas de pérolas e colares de miçangas. A peça mais procurada? A bolsa de square, carinhosamente apelidada de “a queridinha”.

Mas o retorno do público não apaga os desafios. Um dos maiores, segundo diz, é desconstruir preconceitos. “É difícil fazer o cliente entender que a arte africana não é fetichismo. Há ainda muito desconhecimento sobre o valor da nossa cultura.”

Concorrência, clientes e o valor da arte

Para ela, a concorrência não é ameaça, é estímulo. “Motiva-me a ser ágil, criativa e competitiva.” Entre os seus principais clientes estão coleccionadores e turistas, públicos que, segundo relata, demonstram maior sensibilidade ao valor artístico das peças.

“Quem não conhece o valor da arte, nem sempre reage bem. O preconceito cultural pesa”, admite.

Arte que cura

O artesanato mudou radicalmente a sua vida. “Além de ser a minha principal fonte de renda, é uma terapia. Refugiei-me no artesanato num momento crítico e digo sempre que foi e é a minha cura psicológica.”

O processo de produção conta com o apoio das suas irmãs mais novas, enquanto a criação é totalmente solitária. Nas feiras e exposições, junta-se a uma pequena equipa de duas mulheres, também artesãs.

Redes sociais, Instagram e peças com alma

A divulgação nasce sobretudo nas redes sociais. “Ajudam-me a perceber o que o público gosta e a acompanhar tendências.” E se há uma plataforma que entrega resultados concretos, é o Instagram.

Cada peça tem um significado especial. “Dou o nome de uma pessoa importante durante o processo criativo. Cada pessoa na minha vida tem uma história, e é assim que represento o meu carinho por elas.”

Entre os pedidos mais inusitados que já recebeu, lembra, a rir: “Uma bolsa para maço de cigarros e isqueiro.”

O grande objectivo é lançar a marca Candy_Arts, conquistar o mercado nacional e, futuramente, chegar ao mercado internacional. “Penso em ter uma loja e expandir para além de Angola.”

A sua mensagem final é um apelo simples, mas profundo, a quem deseja começar:

“Começa agora. Começa com o que tens, mesmo que seja pouco. Começa!”

E deixa ainda um lembrete, quase um manifesto:

“O nosso trabalho é complexo. Não dês o preço, dá valor.”

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