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A República Democrática do Congo e os rebeldes do M23, apoiados por Ruanda, deram um passo raro rumo ao fim de quase três décadas de conflito no leste do país. Em Doha, no Catar, foi firmado um acordo-quadro que pretende abrir caminho para um cessar-fogo efectivo e para o início de um processo político mais estável. Mas, apesar do gesto histórico, as hesitações e exigências de ambos os lados deixam claro que o caminho para a paz continua frágil.
A cerimónia contou com o envolvimento do Catar, dos Estados Unidos e da União Africana, que nos últimos meses assumiram o papel de mediadores na região conhecida pela riqueza em minerais estratégicos e por um ciclo de violência que nunca cessou verdadeiramente. O enviado norte-americano para África, Massad Boulos, explicou que o documento assenta em oito protocolos, grande parte ainda por afinar, e admitiu que aspectos centrais, como a troca de prisioneiros e o mecanismo de monitorização do cessar-fogo, avançam mais devagar do que era esperado,
A posição de Kinshasa mantém-se firme: a retirada total das forças ruandesas do território congolês. Kigali, por seu lado, responde que só dará esse passo quando a milícia hutu FDLR, composta, em grande medida, por remanescentes do genocídio de 1994 for oficialmente desmantelada. O novo acordo inclui ainda compromissos sobre acesso humanitário, retorno de deslocados e protecção do sistema judicial.
Embora assinado agora, o quadro político não nasce do zero. Em Julho, também em Doha, as partes subscreveram uma declaração de princípios; em Outubro, um entendimento sobre a supervisão de um eventual cessar-fogo. Contudo, o histórico pesa. Em Junho, um acordo mediado por Washington — celebrado por Donald Trump como “um triunfo glorioso” — foi rapidamente violado.
Desde Janeiro, o conflito agravou-se. O M23 capturou Goma, Bukavu e vastas zonas do leste da RDC, obrigando centenas de milhares de pessoas a fugirem das suas casas. Perante o colapso territorial, Kinshasa recorreu à diplomacia norte-americana, oferecendo, segundo relatos, maior acesso a minerais essenciais como o coltan em troca de garantias de segurança.
Ruanda continua a negar o apoio ao M23, apesar das provas recolhidas no terreno, e afirma que a sua presença militar na região é apenas uma resposta defensiva a grupos como a FDLR. Os rebeldes, por sua vez, têm insistido que querem negociações mediadas pelo Catar, por considerarem que estas permitem abordar “as causas profundas” da guerra.
O acordo-quadro agora assinado é, por isso, um avanço, mas não uma conclusão. A guerra no leste da RDC já sobreviveu a dezenas de promessas falhadas, intervenções regionais e tentativas de mediação internacional. Em Doha, abriu-se mais uma porta. Falta saber se, desta vez, alguém a conseguirá manter aberta.
A República Democrática do Congo e os rebeldes do M23, apoiados por Ruanda, deram um passo raro rumo ao fim de quase três décadas de conflito no leste do país. Em Doha, no Catar, foi firmado um acordo-quadro que pretende abrir caminho para um cessar-fogo efectivo e para o início de um processo político mais estável. Mas, apesar do gesto histórico, as hesitações e exigências de ambos os lados deixam claro que o caminho para a paz continua frágil.
A cerimónia contou com o envolvimento do Catar, dos Estados Unidos e da União Africana, que nos últimos meses assumiram o papel de mediadores na região conhecida pela riqueza em minerais estratégicos e por um ciclo de violência que nunca cessou verdadeiramente. O enviado norte-americano para África, Massad Boulos, explicou que o documento assenta em oito protocolos, grande parte ainda por afinar, e admitiu que aspectos centrais, como a troca de prisioneiros e o mecanismo de monitorização do cessar-fogo, avançam mais devagar do que era esperado,
A posição de Kinshasa mantém-se firme: a retirada total das forças ruandesas do território congolês. Kigali, por seu lado, responde que só dará esse passo quando a milícia hutu FDLR, composta, em grande medida, por remanescentes do genocídio de 1994 for oficialmente desmantelada. O novo acordo inclui ainda compromissos sobre acesso humanitário, retorno de deslocados e protecção do sistema judicial.
Embora assinado agora, o quadro político não nasce do zero. Em Julho, também em Doha, as partes subscreveram uma declaração de princípios; em Outubro, um entendimento sobre a supervisão de um eventual cessar-fogo. Contudo, o histórico pesa. Em Junho, um acordo mediado por Washington — celebrado por Donald Trump como “um triunfo glorioso” — foi rapidamente violado.
Desde Janeiro, o conflito agravou-se. O M23 capturou Goma, Bukavu e vastas zonas do leste da RDC, obrigando centenas de milhares de pessoas a fugirem das suas casas. Perante o colapso territorial, Kinshasa recorreu à diplomacia norte-americana, oferecendo, segundo relatos, maior acesso a minerais essenciais como o coltan em troca de garantias de segurança.
Ruanda continua a negar o apoio ao M23, apesar das provas recolhidas no terreno, e afirma que a sua presença militar na região é apenas uma resposta defensiva a grupos como a FDLR. Os rebeldes, por sua vez, têm insistido que querem negociações mediadas pelo Catar, por considerarem que estas permitem abordar “as causas profundas” da guerra.
O acordo-quadro agora assinado é, por isso, um avanço, mas não uma conclusão. A guerra no leste da RDC já sobreviveu a dezenas de promessas falhadas, intervenções regionais e tentativas de mediação internacional. Em Doha, abriu-se mais uma porta. Falta saber se, desta vez, alguém a conseguirá manter aberta.