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Especial Eleições. “A comunicação social parece o parente pobre da democracia”, afirma Gildo Matias José

Especial Eleições. “A comunicação social parece o parente pobre da democracia”, afirma Gildo Matias José
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Andrade Lino

O politólogo Gildo Matias José defendeu que a comunicação social é “tão somente um instrumento indispensável nas democracias”, a partir da qual “os cidadãos procuram obter o máximo de informação possível para exercitarem o direito de voto e não só, para tomarem conhecimento daquilo que ocorre na res publica”.

“É claro que, tal como nós, cidadãos, aprendemos, as instituições e a comunicação social também o fazem, e é normal que o papel da comunicação social passe também por uma aprendizagem”, acrescentou o especialista, por ocasião da sétima edição espectáculo de humor Goz’Aqui, decorrida no início de Julho no Camões - Centro Cultural Português.

Em entrevista exclusiva ao ONgoma News, Gildo Matias José disse ainda que, do mesmo modo que se espera que a comunicação social exerça o seu papel de equilíbrio, “que passa por informar os cidadãos, educar a sociedade, sendo ela um sujeito da construção social, é por via desta que os cidadãos podem obter maior ou menor informação do processo eleitoral”.

Gildo Matias José reforçou, por um lado, que é de exigir que a comunicação social cultive um papel de equilíbrio, mas, por outro, “alguns actores políticos não o fazem por merecer, porque um órgão de comunicação social não vai andar atrás de um líder de uma determinada força político-partidária, sem que este concretize alguma coisa relevante do ponto de vista cívico”.

Em relação à comunicação pública, afirmou que é desejável que esta alcance um equilíbrio, tendo reconhecido que, “no meio dessa ‘festa’ toda, a comunicação social parece o parente pobre da democracia, porque determinados actores, quando se sentem bem tratados batem palmas, mas quando isso não acontece, a comunicação sai a pagar”.

Paralelamente, frisou que há uma dimensão de factos que também é recorrente, ou seja, “sendo que os medias fazem-se de informações que, na perspectiva editorial, possam suscitar alguma relevância do ponto de vista cívico, o que acontece é que muitas destas reivindicações ocorrem quando determinados actores políticos, sem desencadearem um conjunto de conversas que possam suscitar algum interesse noticioso, reclamam.”

Gildo Matias José reforçou, por um lado, que é de exigir que a comunicação social cultive um papel de equilíbrio, mas, por outro, “alguns actores políticos não o fazem por merecer, porque um órgão de comunicação social não vai andar atrás de um líder de uma determinada força político-partidária, sem que este concretize alguma coisa relevante do ponto de vista cívico”.

Para o entrevistado do ONgoma News, “a comunicação social precisa de factos, daí não ter como ir atrás daqueles partidos que pura e simplesmente não dizem nada mas querem aparecer no ecrã da televisão ou querem ouvir o seu nome citado na rádio”, realçou.

Os jovens e o exercício da cidadania

“É que nós não estamos a falar propriamente do desencanto político, mas, muitas vezes, os jovens não se revêm na forma tradicional como a política é feita, porque, para quem frequenta as redes sociais como eu, é notável que os jovens questionam, têm uma opinião, querem informação e são eles a fazer circular conteúdos de natureza política”.

No tocante à participação dos jovens, referiu que não há que se definir uma relação de casualidade directa entre o papel da comunicação social e o interesse ou desinteresse dos jovens, porque, estes, para além desse meio, no seu formato mais clássico e conservador, têm a emergência das redes sociais, que constitui uma ferramenta alternativa para obtenção de informação e exercício dos direitos de cidadania.

“Porém, no essencial, seria bom que todos nós, a comunicação social, aquelas pessoas que de alguma forma exercem um determinado tipo de actividade com consequências no plano da construção social, pudéssemos exercer melhor o nosso papel, no sentido de cativarmos os jovens para a sua participação, pois estamos a falar de um país cuja matriz eleitoral, ou pelo menos aquilo que é a média dos eleitores, não conta com pessoas com mais de 35 anos de idade. Portanto, é importante que os jovens se sintam chamados e tentados a participar, porque é deles que Angola precisa no dia 23 de Agosto”, apelou. 

Ainda nessa linha de pensamento, falou que existe uma questão muito importante de se ter em conta. “É que nós não estamos a falar propriamente do desencanto político, mas, muitas vezes, os jovens não se revêm na forma tradicional como a política é feita, porque, para quem frequenta as redes sociais como eu, é notável que os jovens questionam, têm uma opinião, querem informação e são eles a fazer circular conteúdos de natureza política”. Entretanto, citou, nessa senda da manifestação do interesse juvenil no processo eleitoral, há necessidade de se encontrar fórmulas, “o que é mais responsabilidade dos políticos”, de engajar mais os jovens, para eles se interessem mais.

 “Mas esse engajamento existe, só que há uma diferenciação do tipo de engajamento, porque as estruturas partidárias têm uma dimensão muito pesada da hierarquia que os jovens acabam não estando tão predispostos a ceder às tais disciplinas partidárias, todavia a sociedade precisa dos jovens para a construção do seu modelo, que assenta, sobretudo, numa democracia”, afirmou.

Um homem de “mil e uma” funções

Gildo Matias José é Licenciado em Filosofia pela Universidade Agostinho, Mestre em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), onde também é Doutorando em Políticas Públicas, tem igualmente estudos avançados em Teoria Jurídico-Políticas e Estudos Legislativos.

É Professor Assistente na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, trabalha em áreas disciplinares como Representação Política, Sociologia Política, Movimentos Sociais e Acção Política.

É autor de trabalhos científicos como “O Processo de Construção da Nação Angolana” (2009),  “Congruência Ideológica e Política em Angola” (2012), “O Sistema de Protecção Social e o Desenvolvimento da Protecção Social Obrigatória em Angola (2013)” e “Political Representation in a Non-consolidated Democracy” (no prelo).

Já exerceu funções de Assessor Político-diplomático no Secretariado Executivo da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em Lisboa) entre 2011-2013 e exerce actualmente funções de Assessoria em Políticas Públicas nas áreas de Política de Formação de Quadros e Reforma de Estado. É conferencista internacional para temáticas de representação política em democracias não consolidadas e em políticas sociais em África e analista de questões sociais, assina uma página de crónica sobre política na revista Africa Today e é o Director do Jornal Vanguarda.

 

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

O politólogo Gildo Matias José defendeu que a comunicação social é “tão somente um instrumento indispensável nas democracias”, a partir da qual “os cidadãos procuram obter o máximo de informação possível para exercitarem o direito de voto e não só, para tomarem conhecimento daquilo que ocorre na res publica”.

“É claro que, tal como nós, cidadãos, aprendemos, as instituições e a comunicação social também o fazem, e é normal que o papel da comunicação social passe também por uma aprendizagem”, acrescentou o especialista, por ocasião da sétima edição espectáculo de humor Goz’Aqui, decorrida no início de Julho no Camões - Centro Cultural Português.

Em entrevista exclusiva ao ONgoma News, Gildo Matias José disse ainda que, do mesmo modo que se espera que a comunicação social exerça o seu papel de equilíbrio, “que passa por informar os cidadãos, educar a sociedade, sendo ela um sujeito da construção social, é por via desta que os cidadãos podem obter maior ou menor informação do processo eleitoral”.

Gildo Matias José reforçou, por um lado, que é de exigir que a comunicação social cultive um papel de equilíbrio, mas, por outro, “alguns actores políticos não o fazem por merecer, porque um órgão de comunicação social não vai andar atrás de um líder de uma determinada força político-partidária, sem que este concretize alguma coisa relevante do ponto de vista cívico”.

Em relação à comunicação pública, afirmou que é desejável que esta alcance um equilíbrio, tendo reconhecido que, “no meio dessa ‘festa’ toda, a comunicação social parece o parente pobre da democracia, porque determinados actores, quando se sentem bem tratados batem palmas, mas quando isso não acontece, a comunicação sai a pagar”.

Paralelamente, frisou que há uma dimensão de factos que também é recorrente, ou seja, “sendo que os medias fazem-se de informações que, na perspectiva editorial, possam suscitar alguma relevância do ponto de vista cívico, o que acontece é que muitas destas reivindicações ocorrem quando determinados actores políticos, sem desencadearem um conjunto de conversas que possam suscitar algum interesse noticioso, reclamam.”

Gildo Matias José reforçou, por um lado, que é de exigir que a comunicação social cultive um papel de equilíbrio, mas, por outro, “alguns actores políticos não o fazem por merecer, porque um órgão de comunicação social não vai andar atrás de um líder de uma determinada força político-partidária, sem que este concretize alguma coisa relevante do ponto de vista cívico”.

Para o entrevistado do ONgoma News, “a comunicação social precisa de factos, daí não ter como ir atrás daqueles partidos que pura e simplesmente não dizem nada mas querem aparecer no ecrã da televisão ou querem ouvir o seu nome citado na rádio”, realçou.

Os jovens e o exercício da cidadania

“É que nós não estamos a falar propriamente do desencanto político, mas, muitas vezes, os jovens não se revêm na forma tradicional como a política é feita, porque, para quem frequenta as redes sociais como eu, é notável que os jovens questionam, têm uma opinião, querem informação e são eles a fazer circular conteúdos de natureza política”.

No tocante à participação dos jovens, referiu que não há que se definir uma relação de casualidade directa entre o papel da comunicação social e o interesse ou desinteresse dos jovens, porque, estes, para além desse meio, no seu formato mais clássico e conservador, têm a emergência das redes sociais, que constitui uma ferramenta alternativa para obtenção de informação e exercício dos direitos de cidadania.

“Porém, no essencial, seria bom que todos nós, a comunicação social, aquelas pessoas que de alguma forma exercem um determinado tipo de actividade com consequências no plano da construção social, pudéssemos exercer melhor o nosso papel, no sentido de cativarmos os jovens para a sua participação, pois estamos a falar de um país cuja matriz eleitoral, ou pelo menos aquilo que é a média dos eleitores, não conta com pessoas com mais de 35 anos de idade. Portanto, é importante que os jovens se sintam chamados e tentados a participar, porque é deles que Angola precisa no dia 23 de Agosto”, apelou. 

Ainda nessa linha de pensamento, falou que existe uma questão muito importante de se ter em conta. “É que nós não estamos a falar propriamente do desencanto político, mas, muitas vezes, os jovens não se revêm na forma tradicional como a política é feita, porque, para quem frequenta as redes sociais como eu, é notável que os jovens questionam, têm uma opinião, querem informação e são eles a fazer circular conteúdos de natureza política”. Entretanto, citou, nessa senda da manifestação do interesse juvenil no processo eleitoral, há necessidade de se encontrar fórmulas, “o que é mais responsabilidade dos políticos”, de engajar mais os jovens, para eles se interessem mais.

 “Mas esse engajamento existe, só que há uma diferenciação do tipo de engajamento, porque as estruturas partidárias têm uma dimensão muito pesada da hierarquia que os jovens acabam não estando tão predispostos a ceder às tais disciplinas partidárias, todavia a sociedade precisa dos jovens para a construção do seu modelo, que assenta, sobretudo, numa democracia”, afirmou.

Um homem de “mil e uma” funções

Gildo Matias José é Licenciado em Filosofia pela Universidade Agostinho, Mestre em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), onde também é Doutorando em Políticas Públicas, tem igualmente estudos avançados em Teoria Jurídico-Políticas e Estudos Legislativos.

É Professor Assistente na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, trabalha em áreas disciplinares como Representação Política, Sociologia Política, Movimentos Sociais e Acção Política.

É autor de trabalhos científicos como “O Processo de Construção da Nação Angolana” (2009),  “Congruência Ideológica e Política em Angola” (2012), “O Sistema de Protecção Social e o Desenvolvimento da Protecção Social Obrigatória em Angola (2013)” e “Political Representation in a Non-consolidated Democracy” (no prelo).

Já exerceu funções de Assessor Político-diplomático no Secretariado Executivo da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em Lisboa) entre 2011-2013 e exerce actualmente funções de Assessoria em Políticas Públicas nas áreas de Política de Formação de Quadros e Reforma de Estado. É conferencista internacional para temáticas de representação política em democracias não consolidadas e em políticas sociais em África e analista de questões sociais, assina uma página de crónica sobre política na revista Africa Today e é o Director do Jornal Vanguarda.

 

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