
Nascido a 15 de Outubro de 1938, em Abeokuta, Nigéria, Olufela Olusegun Oludotun Ransome-Kuti, o mundo viria a conhecê-lo apenas como Fela Kuti, foi mais do que um músico: foi um grito de liberdade que ecoou em saxofones, tambores e consciências. Multi-instrumentista, compositor, activista e criador do Afrobeat, Fela transformou a música africana num veículo de resistência política e espiritual.
Filho de uma família de notável influência, o pai, Reverendo Israel Ransome-Kuti, pedagogo e líder sindical, e a mãe, Funmilayo Ransome-Kuti, pioneira feminista e combatente anticolonial, Fela cresceu entre livros e barricadas, absorvendo cedo o sentido da luta.
Em 1958, trocou a Nigéria por Londres, onde ingressou no Trinity College of Music. A Medicina ficou para trás; a música, essa, tornou-se destino. Formou o grupo Koola Lobitos, e ali começou a fundir o highlife com o jazz e as raízes rítmicas africanas que mais tarde dariam origem ao Afrobeat.
Nos Estados Unidos, em 1969, durante uma viagem que mudaria a sua vida, Fela mergulhou no movimento Black Power. Conheceu Sandra Smith, militante ligada aos Panteras Negras, que o apresentou às ideias de Malcolm X e Kwame Nkrumah. Dali em diante, o músico deixou de ser apenas artista, passou a ser um mensageiro.
De regresso à Nigéria, fundou a lendária República Kalakuta, uma comuna que era ao mesmo tempo casa, estúdio e símbolo de insubmissão. Declarou-a independente do Estado nigeriano. A partir dali, nasciam hinos de denúncia como Zombie (1977), uma sátira feroz ao regime militar que lhe custaria caro: a comuna foi invadida, a mãe de Fela morta, e ele brutalmente espancado.
Mas Fela nunca recuou. Respondeu com música, com ironia, com coragem. Coffin for Head of State e Unknown Soldier foram o seu contra-ataque. Criou o Afrika Shrine, espaço sagrado onde a arte e a política se confundiam, e o povo dançava ao som da insurreição.
Nos anos seguintes, o músico desafiou generais e presidentes, denunciou a corrupção em álbuns como Beasts of No Nation (1989), e até tentou entrar na política, fundando o Movimento do Povo e candidatando-se à presidência. A sua voz era incómoda e por isso, necessária.
O preço foi alto: prisões, censura, agressões. Mas a sua música extensa, hipnótica, espiritual nunca se calou. Fela tocava saxofone, teclado, trompete e tambor, e recusava repetir uma canção gravada. Cada concerto era um ritual. Cada nota, um acto de fé.
Em 2 de Agosto de 1997, Lagos silenciou-se: Fela Kuti morria, vítima de complicações relacionadas com a SIDA. Tinha 58 anos. No dia seguinte, mais de um milhão de pessoas acompanharam o seu funeral, num cortejo que transformou o luto em celebração.
Hoje, a sua chama arde no The New Afrika Shrine, dirigido pelo filho Femi Kuti, e no sangue rítmico de uma geração que ainda dança ao som da sua revolta.
Nascido a 15 de Outubro de 1938, em Abeokuta, Nigéria, Olufela Olusegun Oludotun Ransome-Kuti, o mundo viria a conhecê-lo apenas como Fela Kuti, foi mais do que um músico: foi um grito de liberdade que ecoou em saxofones, tambores e consciências. Multi-instrumentista, compositor, activista e criador do Afrobeat, Fela transformou a música africana num veículo de resistência política e espiritual.
Filho de uma família de notável influência, o pai, Reverendo Israel Ransome-Kuti, pedagogo e líder sindical, e a mãe, Funmilayo Ransome-Kuti, pioneira feminista e combatente anticolonial, Fela cresceu entre livros e barricadas, absorvendo cedo o sentido da luta.
Em 1958, trocou a Nigéria por Londres, onde ingressou no Trinity College of Music. A Medicina ficou para trás; a música, essa, tornou-se destino. Formou o grupo Koola Lobitos, e ali começou a fundir o highlife com o jazz e as raízes rítmicas africanas que mais tarde dariam origem ao Afrobeat.
Nos Estados Unidos, em 1969, durante uma viagem que mudaria a sua vida, Fela mergulhou no movimento Black Power. Conheceu Sandra Smith, militante ligada aos Panteras Negras, que o apresentou às ideias de Malcolm X e Kwame Nkrumah. Dali em diante, o músico deixou de ser apenas artista, passou a ser um mensageiro.
De regresso à Nigéria, fundou a lendária República Kalakuta, uma comuna que era ao mesmo tempo casa, estúdio e símbolo de insubmissão. Declarou-a independente do Estado nigeriano. A partir dali, nasciam hinos de denúncia como Zombie (1977), uma sátira feroz ao regime militar que lhe custaria caro: a comuna foi invadida, a mãe de Fela morta, e ele brutalmente espancado.
Mas Fela nunca recuou. Respondeu com música, com ironia, com coragem. Coffin for Head of State e Unknown Soldier foram o seu contra-ataque. Criou o Afrika Shrine, espaço sagrado onde a arte e a política se confundiam, e o povo dançava ao som da insurreição.
Nos anos seguintes, o músico desafiou generais e presidentes, denunciou a corrupção em álbuns como Beasts of No Nation (1989), e até tentou entrar na política, fundando o Movimento do Povo e candidatando-se à presidência. A sua voz era incómoda e por isso, necessária.
O preço foi alto: prisões, censura, agressões. Mas a sua música extensa, hipnótica, espiritual nunca se calou. Fela tocava saxofone, teclado, trompete e tambor, e recusava repetir uma canção gravada. Cada concerto era um ritual. Cada nota, um acto de fé.
Em 2 de Agosto de 1997, Lagos silenciou-se: Fela Kuti morria, vítima de complicações relacionadas com a SIDA. Tinha 58 anos. No dia seguinte, mais de um milhão de pessoas acompanharam o seu funeral, num cortejo que transformou o luto em celebração.
Hoje, a sua chama arde no The New Afrika Shrine, dirigido pelo filho Femi Kuti, e no sangue rítmico de uma geração que ainda dança ao som da sua revolta.