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Gestão de resíduos

Lixo: problema para uns, “bênção” para outros

Lixo: problema para uns, “bênção” para outros
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Para uma cidade como Luanda, que cresce todos os dias em termos populacionais e espaciais, o lixo tornou-se num grande problema ambiental, com elevados custos para a saúde pública e com sérias implicações políticas. Num olhar primário, o lixo parece um problema, um cancro que vem desafiando as instituições governativas e administrativas. Entre nós, o lixo goza do mesmo estatuto que o SIDA: ainda não tem cura (solução).

Para certas pessoas, o que a maioria chama lixo é, de facto, uma “bênção”. Em outros contextos, o lixo é um bem escasso que precisa de políticas concretas que garantam a sua existência. Parece paradoxal, mas é a mais pura realidade. O significado que as pessoas atribuem às coisas é sempre resultante de uma construção social. Daí que para uns o lixo é um grave problema social, para outros é um negócio rentável e uma alavanca para a economia. Tudo depende de como o observador se posiciona em relação ao “real-concreto”.

As atitudes em relação à utilidade do lixo estão profundamente ligadas aos valores culturais, embora esta realidade difira de país para país, de uma zona urbana para outra e mesmo dentro de uma mesma área urbana. O lixo é tão importante para os países ditos desenvolvidos em diferentes dimensões: social, ambiental, económica e política.

Afinal, o que é lixo? São substâncias sólidas, líquidas ou orgânicas resultantes da actividade humana, onde o produto perde utilidade para o utente primário e não necessariamente para outros. Simplificando, o que é lixo para uns, é “bênção” para outros.

A sociedade consumista, caracterizada pela oferta de oportunidades económicas e sociais, o crescimento de mercados e dos serviços, associado ao liberalismo exacerbado produz bens e serviços, por meio de mecanismos adequados procura influenciar o consumidor a criar expectativas e meios de aquisição desses produtos que podem ou não constituir necessidades. 

A diferença entre a utilidade que as sociedades atribuem ao lixo está também intimamente relacionada aos modos de consumo e de produção do próprio lixo. A gestão e utilização que se faz em relação ao lixo, deve incorporar na sua leitura três elementos fundamentais: a redução no consumo, a reutilização dos bens de consumo e a reciclagem do lixo.

A Suécia, actualmente, passou a ser o maio importador de lixo da Noruega devido ao significado e a utilidade que o lixo passou a ter para a economia daquele país

Nem tudo que a maioria considera lixo o é necessariamente. Por exemplo, as roupa adquirida do “fardo” poderia ser considerada lixo pelo primeiro utente, mas significa roupa nova para outros utentes; os vasilhames de plástico, vulgo “bidões” de água mineral são, muitas vezes caçados por outras pessoas que as reutilizam como embalagens para venda de petróleo, yogurt, kissangua, sumo de múcua, etc. O mesmo exemplo serve para as garrafas de vidro que são deitadas pelo primeiro utente, recolhidas pelo segundo em lixeiras e reciclados por terceiros para outros fins (industriais ou artesanais).

Quando me referia a outros contextos, podemos, aqui, tomar o exemplo da Noruega. Desde 2009, tem feito grandes investimentos em instalações modernas para transformação de lixo em energia. A Suécia, actualmente, passou a ser o maio importador de lixo da Noruega devido ao significado e a utilidade que o lixo passou a ter para a economia daquele país. Quer a Suécia quer a Noruega queixam-se de que os consumidores de ambos países não produzem lixo suficiente que garanta a sustentabilidade dos investimentos feitos em incineradoras cuja capacidade de transformação do lixo em luxo é excessiva.

No caso de Luanda, o aconselhável é a redução na produção de lixo, contrariamente aos outros países acima referidos que precisam de aumentar sua produção de lixo pois acrescenta valor às suas economias.

Experiências colhidas de outros países apontam que o destino final do lixo passa pelos seguintes processos: 

1. Os resíduos orgânicos ou biodegradáveis são utilizados para produção de energia eléctrica. A compostagem que consiste em transformar matéria orgânica em adubos para agricultura é uma estratégia aconselhável do ponto de vista económico e ambiental. Na ausência de tecnologia, a deposição é feita em aterros sanitários, através de camadas bem compactadas com terra, de modo a evitar a propagação de cheiros. Ainda assim, os aterros sanitários não são, certamente, a melhor saída pela perigosidade que representam na destruição dos solos.
2. A incineração, mediante a contenção ou filtragem de fumaça, é o processo adequado e aconselhável para o destino final do lixo hospitalar. Ainda assim não deixa de representar um método perigoso de contaminação, sobretudo para as pessoas que lidam directamente com o mesmo. Na Noruega, a incineração não tem a função exclusiva de queimar lixo, é utilizada também para o aquecimento de água que é enviada para o sistema municipal, este por sua vez serve prédios residenciais e superfícies comerciais; o vapor que emana da incineradora é transformado em electricidade.
3. A reciclagem que passa necessariamente pela recolha e selecção do lixo é o processo mais aconselhável economicamente e menos perigoso em termos de contaminação pois estabelece uma cadeia produtiva: gera empregos e renda para todos os envolvidos no processo. 
4. As lixeiras em céu aberto são as mais comuns entre nós, entretanto, são também as principais responsáveis pelas doenças resultantes do contacto com o lixo. São viveiros para insectos e outros organismos transmissores de doenças para além de produzirem metano. Essa substância quando se mistura com o ar, o mínimo contacto com faísca ou chama, provoca explosão violenta. Lixeira é um destino não recomendável pois representa perigo evidente para saúde pública.
5. Resíduos como pilhas, baterias, lâmpadas e partes electrónicas devem merecer um tratamento especial. Não é aconselhável a mistura desse tipo de lixo com outros, pois que destroem os solos.  Dar o devido tratamento ao lixo é cuidar da própria vida.
O significado que as pessoas atribuem às coisas é sempre resultante de uma construção social. Daí que para uns o lixo é um grave problema social, para outros é um negócio rentável e uma alavanca para a economia. Tudo depende de como o observador se posiciona em relação ao “real-concreto”.

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Moniz Sebastião

Ecologista Social

Para uma cidade como Luanda, que cresce todos os dias em termos populacionais e espaciais, o lixo tornou-se num grande problema ambiental, com elevados custos para a saúde pública e com sérias implicações políticas. Num olhar primário, o lixo parece um problema, um cancro que vem desafiando as instituições governativas e administrativas. Entre nós, o lixo goza do mesmo estatuto que o SIDA: ainda não tem cura (solução).

Para certas pessoas, o que a maioria chama lixo é, de facto, uma “bênção”. Em outros contextos, o lixo é um bem escasso que precisa de políticas concretas que garantam a sua existência. Parece paradoxal, mas é a mais pura realidade. O significado que as pessoas atribuem às coisas é sempre resultante de uma construção social. Daí que para uns o lixo é um grave problema social, para outros é um negócio rentável e uma alavanca para a economia. Tudo depende de como o observador se posiciona em relação ao “real-concreto”.

As atitudes em relação à utilidade do lixo estão profundamente ligadas aos valores culturais, embora esta realidade difira de país para país, de uma zona urbana para outra e mesmo dentro de uma mesma área urbana. O lixo é tão importante para os países ditos desenvolvidos em diferentes dimensões: social, ambiental, económica e política.

Afinal, o que é lixo? São substâncias sólidas, líquidas ou orgânicas resultantes da actividade humana, onde o produto perde utilidade para o utente primário e não necessariamente para outros. Simplificando, o que é lixo para uns, é “bênção” para outros.

A sociedade consumista, caracterizada pela oferta de oportunidades económicas e sociais, o crescimento de mercados e dos serviços, associado ao liberalismo exacerbado produz bens e serviços, por meio de mecanismos adequados procura influenciar o consumidor a criar expectativas e meios de aquisição desses produtos que podem ou não constituir necessidades. 

A diferença entre a utilidade que as sociedades atribuem ao lixo está também intimamente relacionada aos modos de consumo e de produção do próprio lixo. A gestão e utilização que se faz em relação ao lixo, deve incorporar na sua leitura três elementos fundamentais: a redução no consumo, a reutilização dos bens de consumo e a reciclagem do lixo.

A Suécia, actualmente, passou a ser o maio importador de lixo da Noruega devido ao significado e a utilidade que o lixo passou a ter para a economia daquele país

Nem tudo que a maioria considera lixo o é necessariamente. Por exemplo, as roupa adquirida do “fardo” poderia ser considerada lixo pelo primeiro utente, mas significa roupa nova para outros utentes; os vasilhames de plástico, vulgo “bidões” de água mineral são, muitas vezes caçados por outras pessoas que as reutilizam como embalagens para venda de petróleo, yogurt, kissangua, sumo de múcua, etc. O mesmo exemplo serve para as garrafas de vidro que são deitadas pelo primeiro utente, recolhidas pelo segundo em lixeiras e reciclados por terceiros para outros fins (industriais ou artesanais).

Quando me referia a outros contextos, podemos, aqui, tomar o exemplo da Noruega. Desde 2009, tem feito grandes investimentos em instalações modernas para transformação de lixo em energia. A Suécia, actualmente, passou a ser o maio importador de lixo da Noruega devido ao significado e a utilidade que o lixo passou a ter para a economia daquele país. Quer a Suécia quer a Noruega queixam-se de que os consumidores de ambos países não produzem lixo suficiente que garanta a sustentabilidade dos investimentos feitos em incineradoras cuja capacidade de transformação do lixo em luxo é excessiva.

No caso de Luanda, o aconselhável é a redução na produção de lixo, contrariamente aos outros países acima referidos que precisam de aumentar sua produção de lixo pois acrescenta valor às suas economias.

Experiências colhidas de outros países apontam que o destino final do lixo passa pelos seguintes processos: 

1. Os resíduos orgânicos ou biodegradáveis são utilizados para produção de energia eléctrica. A compostagem que consiste em transformar matéria orgânica em adubos para agricultura é uma estratégia aconselhável do ponto de vista económico e ambiental. Na ausência de tecnologia, a deposição é feita em aterros sanitários, através de camadas bem compactadas com terra, de modo a evitar a propagação de cheiros. Ainda assim, os aterros sanitários não são, certamente, a melhor saída pela perigosidade que representam na destruição dos solos.
2. A incineração, mediante a contenção ou filtragem de fumaça, é o processo adequado e aconselhável para o destino final do lixo hospitalar. Ainda assim não deixa de representar um método perigoso de contaminação, sobretudo para as pessoas que lidam directamente com o mesmo. Na Noruega, a incineração não tem a função exclusiva de queimar lixo, é utilizada também para o aquecimento de água que é enviada para o sistema municipal, este por sua vez serve prédios residenciais e superfícies comerciais; o vapor que emana da incineradora é transformado em electricidade.
3. A reciclagem que passa necessariamente pela recolha e selecção do lixo é o processo mais aconselhável economicamente e menos perigoso em termos de contaminação pois estabelece uma cadeia produtiva: gera empregos e renda para todos os envolvidos no processo. 
4. As lixeiras em céu aberto são as mais comuns entre nós, entretanto, são também as principais responsáveis pelas doenças resultantes do contacto com o lixo. São viveiros para insectos e outros organismos transmissores de doenças para além de produzirem metano. Essa substância quando se mistura com o ar, o mínimo contacto com faísca ou chama, provoca explosão violenta. Lixeira é um destino não recomendável pois representa perigo evidente para saúde pública.
5. Resíduos como pilhas, baterias, lâmpadas e partes electrónicas devem merecer um tratamento especial. Não é aconselhável a mistura desse tipo de lixo com outros, pois que destroem os solos.  Dar o devido tratamento ao lixo é cuidar da própria vida.
O significado que as pessoas atribuem às coisas é sempre resultante de uma construção social. Daí que para uns o lixo é um grave problema social, para outros é um negócio rentável e uma alavanca para a economia. Tudo depende de como o observador se posiciona em relação ao “real-concreto”.

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