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Filipe Mukenga pede ajuda para lançar o álbum com que deseja despedir-se dos palcos

Filipe Mukenga pede ajuda para lançar o álbum com que deseja despedir-se dos palcos
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Aos 76 anos, Filipe Mukenga carrega nos ombros o peso de uma luta que já não deveria travar: a batalha solitária por apoio, respeito e meios para continuar a criar. O artista, um dos nomes maiores da música angolana, já havia anunciado em 2023 aquando do lançamento do álbum Canções e Destinos que ponderava abandonar os palcos por sentir que o seu contributo estava a ser desvalorizado.

Detentor de uma voz inconfundível e de uma presença artística que marcou gerações, Mukenga encontra-se hoje afligido pela falta de condições para lançar os seus próximos trabalhos. Com 62 anos de carreira e uma lista de sucessos que moldaram a memória musical do país, o músico tem projectos inteiros guardados, mergulhados num silêncio forçado pela ausência de patrocínios.

Em entrevista ao Jornal OPAÍS, o artista traduziu numa só frase o desânimo que o acompanha: “Sinto uma tristeza muito grande porque tenho vários projectos guardados, mas, por falta de apoio, não os consigo lançar.” Conta que chegou a estender a mão, na expectativa de encontrar parceiros dispostos a amparar a sua arte, mas nenhum sinal surgiu.

Hoje, confessa viver uma das fases mais duras da sua carreira. O desrespeito, a falta de consideração e a indiferença em torno do seu legado tornam-se ainda mais dolorosos num momento em que deseja apenas concluir e partilhar aquele que acredita ser o seu último grande trabalho.

‘Tritonalidade’: o álbum que ainda respira fechado no baú

Entre as obras que permanecem por lançar está Tritonalidade, um projecto ambicioso que reúne três álbuns num só. Mukenga descreve-o como um espelho da sua trajectória: uma tapeçaria de estilos, línguas e vivências, atravessando o semba, a kizomba, a música clássica e sonoridades que lhe são intrínsecas. Entre o português, o quimbundo, o inglês e o francês, o artista costura décadas de estrada e memória.

Mas Tritonalidade continua preso no baú. “São muitas canções que vão morrendo no baú; infelizmente, sem apoio não consigo fazer nada”, lamenta quem, em 2021, recebeu o Prémio Nacional da Cultura e Artes na categoria de Música.

Mukenga revela ainda que, paradoxalmente, tem evitado o próprio violão. “Quando pego nele, nasce mais uma composição, e elas vão enchendo o baú de canções que ficam aí a marinar anos e anos”, confessa, num misto de humor triste e desalento.

Uma agonia que já dura demasiado

A crise que enfrenta não é recente. Há mais de seis anos que o músico procura um “balão de oxigénio” para salvar os seus projectos. Em 2023, já havia declarado que gravar discos a cada dez anos era um sinal de que a indústria lhe virava as costas. Sucessos como Ndilukewa, Minha Terra, Terra Minha e Humbi Humbi não têm sido suficientes para lhe garantir o reconhecimento material que a sua obra merece.

Ainda assim, há uma réstia de esperança: Filipe Mukenga está a preparar um concerto para 7 de Dezembro, em Luanda, uma tentativa de gerar receitas que o ajudem a concluir o tão aguardado Tritonalidade, previsto, se tudo correr bem, para 2026.

A vida e o legado

Nascido a 7 de Setembro de 1949, em Luanda, Filipe Mukenga iniciou o seu percurso musical na década de 1960, influenciado pelos Beatles. Passou por grupos como Os Brucutus, The Five Kings, The Black Stars e Os Electrónicos, antes de gravar o seu primeiro álbum, Novo Som, em 1990, pela EMI–Valentim de Carvalho.

Seguiram-se trabalhos como Kianda Kianda (1994), gravado em Paris, O Canto da Sereia (1996), Mimbu Iami (2003), Nós Somos Nós (2009) e Canções e Destinos, lançado em 2023. É um percurso que testemunha não apenas a evolução de um artista, mas a própria história musical de Angola.

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Veloso de Almeida

Repórter

Veloso estudou Comunicação Social no Instituto Superior Técnico de Angola (ISTA) e estagia como jornalista no portal ONgoma News.

Aos 76 anos, Filipe Mukenga carrega nos ombros o peso de uma luta que já não deveria travar: a batalha solitária por apoio, respeito e meios para continuar a criar. O artista, um dos nomes maiores da música angolana, já havia anunciado em 2023 aquando do lançamento do álbum Canções e Destinos que ponderava abandonar os palcos por sentir que o seu contributo estava a ser desvalorizado.

Detentor de uma voz inconfundível e de uma presença artística que marcou gerações, Mukenga encontra-se hoje afligido pela falta de condições para lançar os seus próximos trabalhos. Com 62 anos de carreira e uma lista de sucessos que moldaram a memória musical do país, o músico tem projectos inteiros guardados, mergulhados num silêncio forçado pela ausência de patrocínios.

Em entrevista ao Jornal OPAÍS, o artista traduziu numa só frase o desânimo que o acompanha: “Sinto uma tristeza muito grande porque tenho vários projectos guardados, mas, por falta de apoio, não os consigo lançar.” Conta que chegou a estender a mão, na expectativa de encontrar parceiros dispostos a amparar a sua arte, mas nenhum sinal surgiu.

Hoje, confessa viver uma das fases mais duras da sua carreira. O desrespeito, a falta de consideração e a indiferença em torno do seu legado tornam-se ainda mais dolorosos num momento em que deseja apenas concluir e partilhar aquele que acredita ser o seu último grande trabalho.

‘Tritonalidade’: o álbum que ainda respira fechado no baú

Entre as obras que permanecem por lançar está Tritonalidade, um projecto ambicioso que reúne três álbuns num só. Mukenga descreve-o como um espelho da sua trajectória: uma tapeçaria de estilos, línguas e vivências, atravessando o semba, a kizomba, a música clássica e sonoridades que lhe são intrínsecas. Entre o português, o quimbundo, o inglês e o francês, o artista costura décadas de estrada e memória.

Mas Tritonalidade continua preso no baú. “São muitas canções que vão morrendo no baú; infelizmente, sem apoio não consigo fazer nada”, lamenta quem, em 2021, recebeu o Prémio Nacional da Cultura e Artes na categoria de Música.

Mukenga revela ainda que, paradoxalmente, tem evitado o próprio violão. “Quando pego nele, nasce mais uma composição, e elas vão enchendo o baú de canções que ficam aí a marinar anos e anos”, confessa, num misto de humor triste e desalento.

Uma agonia que já dura demasiado

A crise que enfrenta não é recente. Há mais de seis anos que o músico procura um “balão de oxigénio” para salvar os seus projectos. Em 2023, já havia declarado que gravar discos a cada dez anos era um sinal de que a indústria lhe virava as costas. Sucessos como Ndilukewa, Minha Terra, Terra Minha e Humbi Humbi não têm sido suficientes para lhe garantir o reconhecimento material que a sua obra merece.

Ainda assim, há uma réstia de esperança: Filipe Mukenga está a preparar um concerto para 7 de Dezembro, em Luanda, uma tentativa de gerar receitas que o ajudem a concluir o tão aguardado Tritonalidade, previsto, se tudo correr bem, para 2026.

A vida e o legado

Nascido a 7 de Setembro de 1949, em Luanda, Filipe Mukenga iniciou o seu percurso musical na década de 1960, influenciado pelos Beatles. Passou por grupos como Os Brucutus, The Five Kings, The Black Stars e Os Electrónicos, antes de gravar o seu primeiro álbum, Novo Som, em 1990, pela EMI–Valentim de Carvalho.

Seguiram-se trabalhos como Kianda Kianda (1994), gravado em Paris, O Canto da Sereia (1996), Mimbu Iami (2003), Nós Somos Nós (2009) e Canções e Destinos, lançado em 2023. É um percurso que testemunha não apenas a evolução de um artista, mas a própria história musical de Angola.

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