Por detrás de cada bacia à cabeça, há uma história de luta, dignidade e resiliência. Neste 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, o Ongoma dá voz às zungueiras – as operárias invisíveis que fazem do mercado informal angolano o motor de sobrevivência de milhares de famílias.
“Vendo para dar de comer, não para enriquecer” – Teresa, 52 anos
Na praça do Asa Branca, no Cazenga, Teresa acorda todos os dias às 4 da manhã. Viaja do bairro Cacuaco com a esperança de fazer pelo menos 8.000 kwanzas em vendas de fruta tropical. Viúva e mãe de cinco filhos, todos ainda em casa, começou a zungar quando perdeu o marido em 2006. Desde então, nunca mais parou.
“A vida ensinou-me a não esperar pelo milagre. Acordo, compro na madrugada, carrego à cabeça e venho vender. Às vezes, consigo, às vezes não. Mas nunca fico em casa.”
Teresa fala com orgulho de ter conseguido colocar dois dos filhos no ensino médio. Para ela, o 1.º de Maio não é feriado: é mais um dia de trabalho. “Quem não trabalha, não come. Se ficar em casa, os miúdos vão comer o quê?”
“Já fui corrida, empurrada, humilhada. Mas continuo” – Maria das Dores, 36 anos
Na Mutamba, entre o vai-e-vem de passageiros e vendedores, Maria das Dores vende meias, chinelos e roupas interiores há quase 11 anos. Natural do Huambo, chegou a Luanda em busca de melhores condições, mas encontrou uma realidade dura e impiedosa.
“Trabalho debaixo de sol e chuva. Às vezes corro da fiscalização como se fosse ladra. Já perdi produtos, fui multada. Mas não posso desistir.”
Maria sustenta os três filhos sozinha. Quando o negócio corre bem, manda dinheiro para ajudar os pais que ficaram na aldeia. “Tenho orgulho de ser zungueira. Não roubo, não peço esmola. Trabalho com dignidade.”
“Não somos lixo, somos gente trabalhadora” – Judite, 28 anos
Na baixa de Luanda, Judite carrega cosméticos e perfumes numa caixa improvisada. Jovem, ágil, com sorriso fácil e discurso afiado, desafia os estereótipos sobre as zungueiras. “Há quem pense que somos todas ignorantes, sujas ou delinquentes. Nada disso. Eu terminei o ensino médio e quero estudar Marketing. Mas enquanto isso não acontece, estou aqui a batalhar.”
Judite representa a nova geração de vendedoras ambulantes: mais conscientes dos seus direitos, mais ligadas à internet, e mais exigentes com as autoridades. Participa em grupos de apoio a zungueiras no WhatsApp e já assistiu a formações comunitárias sobre finanças e direitos laborais.
“O Estado precisa olhar para nós como força produtiva. Nós somos a economia real deste país. Só queremos trabalhar em paz.”
O mercado informal como epicentro da economia popular
As zungueiras constituem hoje uma das maiores frentes de trabalho informal em Angola. Estima-se que mais de 70% da população feminina activa esteja envolvida em alguma actividade informal, desde o comércio ambulante, venda em mercados, até ao trabalho doméstico.
A actividade de zunga é, muitas vezes, o único meio de sobrevivência para mulheres chefes de família, sem acesso ao emprego formal ou a apoios do Estado. No entanto, continuam a enfrentar inúmeros desafios: perseguição pelas autoridades, ausência de segurança social, falta de creches comunitárias, inexistência de linhas de microcrédito acessíveis e, sobretudo, estigmatização social.
Uma força que pede reconhecimento
Neste Dia Internacional do Trabalhador, o apelo que se ergue das ruas, becos e mercados de Luanda é claro: dignidade, protecção e políticas públicas inclusivas. As zungueiras não pedem favores, mas o direito ao trabalho digno, à protecção social e ao reconhecimento institucional da sua contribuição económica e social.
A formalização do mercado informal, a criação de cooperativas, o acesso a formação técnica, a inclusão em esquemas de segurança social e a protecção contra a violência policial são caminhos urgentes para garantir que essas mulheres deixem de ser invisíveis no papel, mas reconhecidas como verdadeiras protagonistas do trabalho em Angola.
O futuro das zungueiras é o futuro do país
As histórias de Teresa, Maria das Dores e Judite mostram-nos que o trabalho informal é feito de rostos reais, de mãos calejadas, de sonhos por realizar. Elas são mães, empreendedoras, gestoras e educadoras. São o reflexo da resiliência de um povo e da urgência de um país mais justo.
Neste 1.º de Maio, que os aplausos não sejam apenas simbólicos. Que se transformem em políticas concretas e mudanças reais. Porque o progresso começa quando reconhecemos quem, todos os dias, sustenta o país com o seu suor, mesmo sem crachá, uniforme ou contrato.
Por detrás de cada bacia à cabeça, há uma história de luta, dignidade e resiliência. Neste 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, o Ongoma dá voz às zungueiras – as operárias invisíveis que fazem do mercado informal angolano o motor de sobrevivência de milhares de famílias.
“Vendo para dar de comer, não para enriquecer” – Teresa, 52 anos
Na praça do Asa Branca, no Cazenga, Teresa acorda todos os dias às 4 da manhã. Viaja do bairro Cacuaco com a esperança de fazer pelo menos 8.000 kwanzas em vendas de fruta tropical. Viúva e mãe de cinco filhos, todos ainda em casa, começou a zungar quando perdeu o marido em 2006. Desde então, nunca mais parou.
“A vida ensinou-me a não esperar pelo milagre. Acordo, compro na madrugada, carrego à cabeça e venho vender. Às vezes, consigo, às vezes não. Mas nunca fico em casa.”
Teresa fala com orgulho de ter conseguido colocar dois dos filhos no ensino médio. Para ela, o 1.º de Maio não é feriado: é mais um dia de trabalho. “Quem não trabalha, não come. Se ficar em casa, os miúdos vão comer o quê?”
“Já fui corrida, empurrada, humilhada. Mas continuo” – Maria das Dores, 36 anos
Na Mutamba, entre o vai-e-vem de passageiros e vendedores, Maria das Dores vende meias, chinelos e roupas interiores há quase 11 anos. Natural do Huambo, chegou a Luanda em busca de melhores condições, mas encontrou uma realidade dura e impiedosa.
“Trabalho debaixo de sol e chuva. Às vezes corro da fiscalização como se fosse ladra. Já perdi produtos, fui multada. Mas não posso desistir.”
Maria sustenta os três filhos sozinha. Quando o negócio corre bem, manda dinheiro para ajudar os pais que ficaram na aldeia. “Tenho orgulho de ser zungueira. Não roubo, não peço esmola. Trabalho com dignidade.”
“Não somos lixo, somos gente trabalhadora” – Judite, 28 anos
Na baixa de Luanda, Judite carrega cosméticos e perfumes numa caixa improvisada. Jovem, ágil, com sorriso fácil e discurso afiado, desafia os estereótipos sobre as zungueiras. “Há quem pense que somos todas ignorantes, sujas ou delinquentes. Nada disso. Eu terminei o ensino médio e quero estudar Marketing. Mas enquanto isso não acontece, estou aqui a batalhar.”
Judite representa a nova geração de vendedoras ambulantes: mais conscientes dos seus direitos, mais ligadas à internet, e mais exigentes com as autoridades. Participa em grupos de apoio a zungueiras no WhatsApp e já assistiu a formações comunitárias sobre finanças e direitos laborais.
“O Estado precisa olhar para nós como força produtiva. Nós somos a economia real deste país. Só queremos trabalhar em paz.”
O mercado informal como epicentro da economia popular
As zungueiras constituem hoje uma das maiores frentes de trabalho informal em Angola. Estima-se que mais de 70% da população feminina activa esteja envolvida em alguma actividade informal, desde o comércio ambulante, venda em mercados, até ao trabalho doméstico.
A actividade de zunga é, muitas vezes, o único meio de sobrevivência para mulheres chefes de família, sem acesso ao emprego formal ou a apoios do Estado. No entanto, continuam a enfrentar inúmeros desafios: perseguição pelas autoridades, ausência de segurança social, falta de creches comunitárias, inexistência de linhas de microcrédito acessíveis e, sobretudo, estigmatização social.
Uma força que pede reconhecimento
Neste Dia Internacional do Trabalhador, o apelo que se ergue das ruas, becos e mercados de Luanda é claro: dignidade, protecção e políticas públicas inclusivas. As zungueiras não pedem favores, mas o direito ao trabalho digno, à protecção social e ao reconhecimento institucional da sua contribuição económica e social.
A formalização do mercado informal, a criação de cooperativas, o acesso a formação técnica, a inclusão em esquemas de segurança social e a protecção contra a violência policial são caminhos urgentes para garantir que essas mulheres deixem de ser invisíveis no papel, mas reconhecidas como verdadeiras protagonistas do trabalho em Angola.
O futuro das zungueiras é o futuro do país
As histórias de Teresa, Maria das Dores e Judite mostram-nos que o trabalho informal é feito de rostos reais, de mãos calejadas, de sonhos por realizar. Elas são mães, empreendedoras, gestoras e educadoras. São o reflexo da resiliência de um povo e da urgência de um país mais justo.
Neste 1.º de Maio, que os aplausos não sejam apenas simbólicos. Que se transformem em políticas concretas e mudanças reais. Porque o progresso começa quando reconhecemos quem, todos os dias, sustenta o país com o seu suor, mesmo sem crachá, uniforme ou contrato.