O artista plástico angolano Van afirmou em Luanda que já não pode fazer algo que fira sensibilidades sem estar a representá-lo, tendo clareado que já tem idade para fazer as coisas conforme devem ser, e tenta fazer o melhor possível, apesar das falhas, sempre que tende a apresentar alguma coisa do ponto de vista patrimonial.
“A minha actividade enquanto artista, enquanto produtor de património material e imaterial, tem sempre uma carga por trás, pois há uma história a lendas”, continuou o também professor universitário, que falava ao ONgoma News a propósito da sua mais recente exposição, “Formas Híbridas (de Influência) Cokwe”, inaugurada no passado dia 29 de Junho, no Palácio de Ferro.
Disse entretanto que a responsabilidade de produzir este património material deve ter rigor, por isso já não pode fazer algo que não o represente, e a exposição, patente até 26 deste mês, surgiu da necessidade de se compenetrar melhor na cultura Cokwe. “É verdade que faltarão muitos outros espaços, mas esta reentrada, este revisitar da cultura Cokwe foi para nós um grande salto. Tudo nasceu a convite da galeria ELA, na pessoa do Dominick Tanner, que me fez o convite e tratou de toda logística, de toda produção e planeou a viagem. Eu simplesmente esquematizei o processo de pesquisa, depois disso fomos fazer a recolha de dados nalguns pontos da Lunda-Sul, nomeadamente em locais onde estão posicionados os três reinados, como o do rei Muatxissengue”, revelou Van, que esclareceu que a intenção foi ver, ouvir e conversar sobre as histórias, lendas, e também apreciar alguns rituais, como os de casamentos, da circuncisão, rituais festivos, tudo à base de dança, música, coreografias diversas, etc.
O artista observou que vivemos alguma diversidade cultural e daí extraiu elementos, dados possíveis para a plástica, sendo que o seu interesse foi recolher dessa vivência cultural os elementos formais lineares, cromáticos, da textura, de tudo quanto viu das características da gente das artes. “Daí busquei essas características e simplesmente representei isso simbolicamente através da escultura e da pintura.
A amostra é também uma homenagem à avó materna do mestre Van, como é chamado no seio artístico. Ele é o primeiro neto da avó Eka. “Ela, para mim, funcionou como uma mãe. A minha mãe era muito nova quando me teve e ela praticamente assegurou-me como uma mãe, e foi durante muito tempo que com ela que vivi e tive muita afeição por ela, portanto essa é também uma homenagem a ela, mas não apenas por causa dessa ligação estritamente familiar, é porque, quando eu era jovem já ligado às artes, curiosamente eu via-a a fazer panela de barro, trabalhava com olaria, cerâmica e cestaria”, contou.
A história continua quando certo dia Van visita a avó e pergunta onde é que ela aprendeu a fazer aquilo. “Curiosamente, ela entende a minha curiosidade e foi mais longe: ela levantou a blusa e mostrou-me o sona, o ideograma que ela tinha tatuado no seu seio esquerdo. Do ponto de vista da biografia dos livros que temos aqui, isso chamou-me a atenção porque aquilo que eu via nos livros era exactamente aquilo que a avó portava no seu corpo como tatuagem”, disse, tendo referido que, na viagem à Lunda-Sul e o contacto com toda a diversidade cultural, tudo lhe lembrava a avó.
Nesse sentido, a exposição acaba por prestar culto à ancestralidade. “Porque a arte endógena tem muito a ver com a nossa tradição no bom sentido, porque um povo que não conhece a sua ancestralidade é um povo que anda à deriva, e resgatar esse elemento e trazer à contemporaneidade com técnica moderna, com estratégias, com todo esse procedimento mais actual, isto eleva a nossa cultura do ponto de vista universal, portanto, podemos levar isto a qualquer parte do mundo”, argumentou.
Van traz então nas suas obras a “Interpretação da Lenda Cokwe, Nzambi Kalunga Nipangu, que na leitura, “O SOL FOI VISITAR DEUS. UM CERTO DIA, DEUS OFERECEU AO SOL UMA GALINHA. DE MANHÃ, A GALINHA CACAREJOU E ACORDOU O SOL. DEUS PERGUNTOU AO SOL SE NÃO COMERA A GALINHA QUE LHE DEU PARA O JANTAR. E DEUS ENTÃO DISSE AO SOL: “PODES FICAR COM A GALINHA, MAS DEVES REGRESSAR AQUI TODOS OS DIAS. DAÍ A RAZÃO POR QUE O SOL CIRCULA A TERRA E NASCE TODAS AS MANHÃS”.
Um outro quadro é inspirado “num bastão híbrido em que há diferentes artefactos associados num só elemento”, como uma mulher grávida e um batuque, e depois uma obra relativamente grande, que se chama “Formas e Expressões de Influência Cokwe”, onde se encontram elementos da arte rupestre, como cavernas, e as características das culturas tradicionais, com os diversos pormenores, usando técnicas a carvão, acrílico e depois introduziu duas peças de artesanato, também híbridas, tendo uma parte figurativa e outra de chocalho artesanal.
Estão ainda três esculturas, dentre elas uma que representa os quatro pontos cardiais e outra que mostra os elementos de forja que os cokwe utilizam para defesa, para caça.
De nome completo Francisco Domingos Van-Dúnem, o artista é mestre em Educação Artística e autor de 38 exposições individuais e mais de uma centena em participações colectivas desde 1977. É detentor de vários prémios nacionais e internacionais no domínio das Artes Plásticas e, actualmente, é docente da cadeira de desenho e de práticas artísticas na Faculdade de Artes. Também é promotor, produtor e curador de actividades artísticas, culturais e ambientais, sendo que as suas obras fazem parte de grandes colecções nacionais públicas e privadas.
Ao ONgoma News, mestre Van garantiu que pretende continuar a jornada, porque ainda não se sente realizado, nem do ponto de vista económico, nem mesmo no ponto de vista social.
O artista plástico angolano Van afirmou em Luanda que já não pode fazer algo que fira sensibilidades sem estar a representá-lo, tendo clareado que já tem idade para fazer as coisas conforme devem ser, e tenta fazer o melhor possível, apesar das falhas, sempre que tende a apresentar alguma coisa do ponto de vista patrimonial.
“A minha actividade enquanto artista, enquanto produtor de património material e imaterial, tem sempre uma carga por trás, pois há uma história a lendas”, continuou o também professor universitário, que falava ao ONgoma News a propósito da sua mais recente exposição, “Formas Híbridas (de Influência) Cokwe”, inaugurada no passado dia 29 de Junho, no Palácio de Ferro.
Disse entretanto que a responsabilidade de produzir este património material deve ter rigor, por isso já não pode fazer algo que não o represente, e a exposição, patente até 26 deste mês, surgiu da necessidade de se compenetrar melhor na cultura Cokwe. “É verdade que faltarão muitos outros espaços, mas esta reentrada, este revisitar da cultura Cokwe foi para nós um grande salto. Tudo nasceu a convite da galeria ELA, na pessoa do Dominick Tanner, que me fez o convite e tratou de toda logística, de toda produção e planeou a viagem. Eu simplesmente esquematizei o processo de pesquisa, depois disso fomos fazer a recolha de dados nalguns pontos da Lunda-Sul, nomeadamente em locais onde estão posicionados os três reinados, como o do rei Muatxissengue”, revelou Van, que esclareceu que a intenção foi ver, ouvir e conversar sobre as histórias, lendas, e também apreciar alguns rituais, como os de casamentos, da circuncisão, rituais festivos, tudo à base de dança, música, coreografias diversas, etc.
O artista observou que vivemos alguma diversidade cultural e daí extraiu elementos, dados possíveis para a plástica, sendo que o seu interesse foi recolher dessa vivência cultural os elementos formais lineares, cromáticos, da textura, de tudo quanto viu das características da gente das artes. “Daí busquei essas características e simplesmente representei isso simbolicamente através da escultura e da pintura.
A amostra é também uma homenagem à avó materna do mestre Van, como é chamado no seio artístico. Ele é o primeiro neto da avó Eka. “Ela, para mim, funcionou como uma mãe. A minha mãe era muito nova quando me teve e ela praticamente assegurou-me como uma mãe, e foi durante muito tempo que com ela que vivi e tive muita afeição por ela, portanto essa é também uma homenagem a ela, mas não apenas por causa dessa ligação estritamente familiar, é porque, quando eu era jovem já ligado às artes, curiosamente eu via-a a fazer panela de barro, trabalhava com olaria, cerâmica e cestaria”, contou.
A história continua quando certo dia Van visita a avó e pergunta onde é que ela aprendeu a fazer aquilo. “Curiosamente, ela entende a minha curiosidade e foi mais longe: ela levantou a blusa e mostrou-me o sona, o ideograma que ela tinha tatuado no seu seio esquerdo. Do ponto de vista da biografia dos livros que temos aqui, isso chamou-me a atenção porque aquilo que eu via nos livros era exactamente aquilo que a avó portava no seu corpo como tatuagem”, disse, tendo referido que, na viagem à Lunda-Sul e o contacto com toda a diversidade cultural, tudo lhe lembrava a avó.
Nesse sentido, a exposição acaba por prestar culto à ancestralidade. “Porque a arte endógena tem muito a ver com a nossa tradição no bom sentido, porque um povo que não conhece a sua ancestralidade é um povo que anda à deriva, e resgatar esse elemento e trazer à contemporaneidade com técnica moderna, com estratégias, com todo esse procedimento mais actual, isto eleva a nossa cultura do ponto de vista universal, portanto, podemos levar isto a qualquer parte do mundo”, argumentou.
Van traz então nas suas obras a “Interpretação da Lenda Cokwe, Nzambi Kalunga Nipangu, que na leitura, “O SOL FOI VISITAR DEUS. UM CERTO DIA, DEUS OFERECEU AO SOL UMA GALINHA. DE MANHÃ, A GALINHA CACAREJOU E ACORDOU O SOL. DEUS PERGUNTOU AO SOL SE NÃO COMERA A GALINHA QUE LHE DEU PARA O JANTAR. E DEUS ENTÃO DISSE AO SOL: “PODES FICAR COM A GALINHA, MAS DEVES REGRESSAR AQUI TODOS OS DIAS. DAÍ A RAZÃO POR QUE O SOL CIRCULA A TERRA E NASCE TODAS AS MANHÃS”.
Um outro quadro é inspirado “num bastão híbrido em que há diferentes artefactos associados num só elemento”, como uma mulher grávida e um batuque, e depois uma obra relativamente grande, que se chama “Formas e Expressões de Influência Cokwe”, onde se encontram elementos da arte rupestre, como cavernas, e as características das culturas tradicionais, com os diversos pormenores, usando técnicas a carvão, acrílico e depois introduziu duas peças de artesanato, também híbridas, tendo uma parte figurativa e outra de chocalho artesanal.
Estão ainda três esculturas, dentre elas uma que representa os quatro pontos cardiais e outra que mostra os elementos de forja que os cokwe utilizam para defesa, para caça.
De nome completo Francisco Domingos Van-Dúnem, o artista é mestre em Educação Artística e autor de 38 exposições individuais e mais de uma centena em participações colectivas desde 1977. É detentor de vários prémios nacionais e internacionais no domínio das Artes Plásticas e, actualmente, é docente da cadeira de desenho e de práticas artísticas na Faculdade de Artes. Também é promotor, produtor e curador de actividades artísticas, culturais e ambientais, sendo que as suas obras fazem parte de grandes colecções nacionais públicas e privadas.
Ao ONgoma News, mestre Van garantiu que pretende continuar a jornada, porque ainda não se sente realizado, nem do ponto de vista económico, nem mesmo no ponto de vista social.