Ideias e Negócios
Empreendedorismo Feminino

FEF Angola mostrou-me que “a mulher tem muito jeito”

FEF Angola mostrou-me que “a mulher tem muito jeito”
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Andrade Lino

2017 foi um ano de muita correria, do ponto de vista de cobertura de eventos, e um completo desafio, principalmente quando se tem o azar, embora não de todo, de cumprir com as tarefas de dois em um: fotografar e entrevistar.

E é mesmo por causa disso que há algumas horas de começar a escrever esse artigo sentia-me meio confuso sobre o que falar, pois, com tanta coisa que aconteceu nestes 12 meses, a nível do empreendedorismo, não me surgia nada que achasse mais curioso de tratar.

Bem, desde muito cedo que defendo que para entendermos as pessoas precisamos de colocar-nos no lugar delas e, às vezes, sem ser isso necessário, temos que apenas respeitar e/ou aceitar a posição de cada um, e aí eu caio na primeira Feira de Empreendedorismo Feminino de Angola (FEF Angola), onde mais do que agentes e empresariais vi mulheres que se expressam com os seus negócios e através das áreas distintas em que actuam procuram mostrar o seu valor.

Falo de entender porque as mulheres, ali presentes, reuniam-se, por dentro do ciclo de palestras promovidas durante a feira, como que num sindicato, onde destacavam a maneira arrogante como grande parte da sociedade ainda olha para alguns dos seus interesses.

Então, sentei-me também, e acompanhava de raspão algumas apresentações, quando a minha visão foi muito além dos temas em debate, vendo que, ali, foram tomadas lições sobre educação financeira, inteligência emocional, sobre como empreender utilizando as redes sociais, dentre outras. Através do pronunciamento que cada uma delas fazia ao levantar uma questão, queriam mostrar que não nasceram para a sujeição. 

Mais do que aprender, as mulheres iam carregando as suas armas de coragem, precisavam de incentivo e queriam, pois, encontrar estímulo para a sua bravura e garantir o seu respeito. Sim, “porque não é a mesma coisa ver uma senhora num cargo muito concorrido por homens”.

Algumas participantes partilhavam histórias da sua vida marital, umas felizes por terem maridos que as compreendem e aceitam o facto de que, independentemente de serem as “donas de casa”, têm que “ralar” por si mesmas também, outras nem tanto, porque até, não podendo fazer mais nada, já não têm da parte dos seus parceiros o devido respeito.

Girando o Parque Luanda Mágica, sito no Miramar, onde o encontro teve lugar, com a câmara e o peso de ter que entrevistar o maior número de pequenas e médias empresas que conseguisse, percebi que hoje, as mulheres, sabendo usar a cabeça, podem ganhar “kumbu” com qualquer coisa que seja fazível, e certifiquei-me então de que “a mulher tem muito jeito”.

... a Feira de Empreendedorismo Feminino  foi um espectáculo de oportunidades para muita gente, com maior pendor para as expositoras, porque daí, decerto, nasceram muitas parcerias. 

Dos projectos de decoração, “magias” com papel, floricultura, estética, cabeleireiro, culinária e não só, a Feira de Empreendedorismo Feminino  foi um espectáculo de oportunidades para muita gente, com maior pendor para as expositoras, porque daí, decerto, nasceram muitas parcerias. Mas o que me alegra é que ao ter acompanhado o evento, fiquei a saber que as mulheres estão a ganhar cada vez mais autonomia e nessa ordem fica menos susceptível termos as nossas irmãs a sofrer nas casas dos filhos alheios.

Ou seja, se antes, nos serviços religiosos, as mulheres assumiam uma atitude passiva e hoje já é o contrário, faz muito mais sentido deixarmos de lado as diferenças de género (mas a igualdade não é o foco), porque os homens morrem e depois as mulheres já não têm como cuidar dos filhos, por exemplo.

Todavia, não basta “criar espaços que tornem maior o seu espaço de acção”, como afirma a administradora financeira da Fábrica de Cimento do Kwanza Sul, Andreia Martins, mas é preciso as mulheres saberem o que querem. Porque podemos ter workshops, feiras de artesanato, como as que acontecem na Ilha de Luanda, mas não sabendo elas definir estratégias para os seus negócios ou não terem como cartas na manga, por assim dizer, planos e mecanismos para darem luta nas circunstâncias mais difíceis, serão como folhas levadas pelo vento e o seu espaço continuará sem preenchimento.

Já disse a escritora e femininista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie que os grandes Chefs são homens, quando é às mulheres dado o cargo diário de cozinheiras, e isso é algo que dá o que pensar. A propósito de empreender, vejo que as mulheres têm muito mais “furos” – entenda-se visão -, sendo que falta mais ousadia, deve haver menos medo de falhar e saber como usar as oportunidades, apesar de muitos recursos que nos faltam, como reclama a maioria delas.

Saber comunicar o seu negócio e procurar de todas as formas convencer as pessoas a aderirem ao produto que oferece, ter uma abordagem conquistadora, dando a certeza e mostrando na prática que presta um serviço diferenciado, é essencial para a concorrência e para o patamar que pretende alcançar no mercado.

Outra coisa com que não deixei de reparar, porque acontece em muitos eventos deste género, é haver expositoras que se negam a “vender” em entrevista o seu “peixe”, simplesmente por não estarem preparadas, e o que para mim já representa uma derrota. Saber comunicar o seu negócio e procurar de todas as formas convencer as pessoas a aderirem ao produto que oferece, ter uma abordagem conquistadora, dando a certeza e mostrando na prática que presta um serviço diferenciado, é essencial para a concorrência e para o patamar que pretende alcançar no mercado.

E olha que quando sabemos o que queremos, ainda que leve tempo para ser-nos reconhecido o nosso potencial, o quer que façamos, vale a pena. Ouvi relatos de pessoas que se sustentam fazendo trabalhos que não são ligados à sua área de formação, e que no princípio ouviram muitas vozes que quase as fizeram desistir, porém sabiam o que queriam e por isso ainda reconhecem o seu lugar. Exemplo disso são muitas das mães que nos criaram, grande parte com muito baixo escalão académico, mas sabedoria acima da média.

Entretanto, o empreendedorismo é ainda embrião no nosso país, o que se nota pela necessidade de ainda aprendermos muito, principalmente no tocante ao fazer/saber fazer um plano de negócios, mas sinto que isto está no sangue das mulheres, daí que defendo maior preparação, formação e atrevimento, desde que propenso a bons resultados, daquelas que não se querem deixar ultrapassar.

Chama-me muito à atenção mulheres que fazem confusão - é pela positiva - para conquistarem o seu lugar, dedicando-se, fortes e confiantes, a dar vida aos seus sonhos. Portanto, as mulheres que ambicionam ser empresárias, antes de mais nada, precisam contar com as pessoas certas, porque o país, para mim, precisa desse instinto protector e da garra que elas têm para dar passos seguros ao andamento da diversificação económica.

 

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

2017 foi um ano de muita correria, do ponto de vista de cobertura de eventos, e um completo desafio, principalmente quando se tem o azar, embora não de todo, de cumprir com as tarefas de dois em um: fotografar e entrevistar.

E é mesmo por causa disso que há algumas horas de começar a escrever esse artigo sentia-me meio confuso sobre o que falar, pois, com tanta coisa que aconteceu nestes 12 meses, a nível do empreendedorismo, não me surgia nada que achasse mais curioso de tratar.

Bem, desde muito cedo que defendo que para entendermos as pessoas precisamos de colocar-nos no lugar delas e, às vezes, sem ser isso necessário, temos que apenas respeitar e/ou aceitar a posição de cada um, e aí eu caio na primeira Feira de Empreendedorismo Feminino de Angola (FEF Angola), onde mais do que agentes e empresariais vi mulheres que se expressam com os seus negócios e através das áreas distintas em que actuam procuram mostrar o seu valor.

Falo de entender porque as mulheres, ali presentes, reuniam-se, por dentro do ciclo de palestras promovidas durante a feira, como que num sindicato, onde destacavam a maneira arrogante como grande parte da sociedade ainda olha para alguns dos seus interesses.

Então, sentei-me também, e acompanhava de raspão algumas apresentações, quando a minha visão foi muito além dos temas em debate, vendo que, ali, foram tomadas lições sobre educação financeira, inteligência emocional, sobre como empreender utilizando as redes sociais, dentre outras. Através do pronunciamento que cada uma delas fazia ao levantar uma questão, queriam mostrar que não nasceram para a sujeição. 

Mais do que aprender, as mulheres iam carregando as suas armas de coragem, precisavam de incentivo e queriam, pois, encontrar estímulo para a sua bravura e garantir o seu respeito. Sim, “porque não é a mesma coisa ver uma senhora num cargo muito concorrido por homens”.

Algumas participantes partilhavam histórias da sua vida marital, umas felizes por terem maridos que as compreendem e aceitam o facto de que, independentemente de serem as “donas de casa”, têm que “ralar” por si mesmas também, outras nem tanto, porque até, não podendo fazer mais nada, já não têm da parte dos seus parceiros o devido respeito.

Girando o Parque Luanda Mágica, sito no Miramar, onde o encontro teve lugar, com a câmara e o peso de ter que entrevistar o maior número de pequenas e médias empresas que conseguisse, percebi que hoje, as mulheres, sabendo usar a cabeça, podem ganhar “kumbu” com qualquer coisa que seja fazível, e certifiquei-me então de que “a mulher tem muito jeito”.

... a Feira de Empreendedorismo Feminino  foi um espectáculo de oportunidades para muita gente, com maior pendor para as expositoras, porque daí, decerto, nasceram muitas parcerias. 

Dos projectos de decoração, “magias” com papel, floricultura, estética, cabeleireiro, culinária e não só, a Feira de Empreendedorismo Feminino  foi um espectáculo de oportunidades para muita gente, com maior pendor para as expositoras, porque daí, decerto, nasceram muitas parcerias. Mas o que me alegra é que ao ter acompanhado o evento, fiquei a saber que as mulheres estão a ganhar cada vez mais autonomia e nessa ordem fica menos susceptível termos as nossas irmãs a sofrer nas casas dos filhos alheios.

Ou seja, se antes, nos serviços religiosos, as mulheres assumiam uma atitude passiva e hoje já é o contrário, faz muito mais sentido deixarmos de lado as diferenças de género (mas a igualdade não é o foco), porque os homens morrem e depois as mulheres já não têm como cuidar dos filhos, por exemplo.

Todavia, não basta “criar espaços que tornem maior o seu espaço de acção”, como afirma a administradora financeira da Fábrica de Cimento do Kwanza Sul, Andreia Martins, mas é preciso as mulheres saberem o que querem. Porque podemos ter workshops, feiras de artesanato, como as que acontecem na Ilha de Luanda, mas não sabendo elas definir estratégias para os seus negócios ou não terem como cartas na manga, por assim dizer, planos e mecanismos para darem luta nas circunstâncias mais difíceis, serão como folhas levadas pelo vento e o seu espaço continuará sem preenchimento.

Já disse a escritora e femininista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie que os grandes Chefs são homens, quando é às mulheres dado o cargo diário de cozinheiras, e isso é algo que dá o que pensar. A propósito de empreender, vejo que as mulheres têm muito mais “furos” – entenda-se visão -, sendo que falta mais ousadia, deve haver menos medo de falhar e saber como usar as oportunidades, apesar de muitos recursos que nos faltam, como reclama a maioria delas.

Saber comunicar o seu negócio e procurar de todas as formas convencer as pessoas a aderirem ao produto que oferece, ter uma abordagem conquistadora, dando a certeza e mostrando na prática que presta um serviço diferenciado, é essencial para a concorrência e para o patamar que pretende alcançar no mercado.

Outra coisa com que não deixei de reparar, porque acontece em muitos eventos deste género, é haver expositoras que se negam a “vender” em entrevista o seu “peixe”, simplesmente por não estarem preparadas, e o que para mim já representa uma derrota. Saber comunicar o seu negócio e procurar de todas as formas convencer as pessoas a aderirem ao produto que oferece, ter uma abordagem conquistadora, dando a certeza e mostrando na prática que presta um serviço diferenciado, é essencial para a concorrência e para o patamar que pretende alcançar no mercado.

E olha que quando sabemos o que queremos, ainda que leve tempo para ser-nos reconhecido o nosso potencial, o quer que façamos, vale a pena. Ouvi relatos de pessoas que se sustentam fazendo trabalhos que não são ligados à sua área de formação, e que no princípio ouviram muitas vozes que quase as fizeram desistir, porém sabiam o que queriam e por isso ainda reconhecem o seu lugar. Exemplo disso são muitas das mães que nos criaram, grande parte com muito baixo escalão académico, mas sabedoria acima da média.

Entretanto, o empreendedorismo é ainda embrião no nosso país, o que se nota pela necessidade de ainda aprendermos muito, principalmente no tocante ao fazer/saber fazer um plano de negócios, mas sinto que isto está no sangue das mulheres, daí que defendo maior preparação, formação e atrevimento, desde que propenso a bons resultados, daquelas que não se querem deixar ultrapassar.

Chama-me muito à atenção mulheres que fazem confusão - é pela positiva - para conquistarem o seu lugar, dedicando-se, fortes e confiantes, a dar vida aos seus sonhos. Portanto, as mulheres que ambicionam ser empresárias, antes de mais nada, precisam contar com as pessoas certas, porque o país, para mim, precisa desse instinto protector e da garra que elas têm para dar passos seguros ao andamento da diversificação económica.

 

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