Biografia

José Eduardo dos Santos, a voz silenciosa de um patriota que pensou África no mundo

José Eduardo dos Santos, a voz silenciosa de um patriota que pensou África no mundo
Foto por:
vídeo por:
DR

Ele dizia que gostaria de ser lembrado como “um bom patriota”. E é nesse eco discreto, firme e visionário que se inscreve o nome de José Eduardo dos Santos, Zé Du, no livro da história angolana e africana.

Nascido a 28 de Agosto de 1942, no bairro popular de Sambizanga, em Luanda, José Eduardo dos Santos percorreu um caminho que transcendeu fronteiras. Filho do musseque e da resistência, partiu ainda jovem para o exílio, onde fundiu a fome de justiça social com o engenho técnico, tornando-se engenheiro de petróleos formado na então União Soviética. A ciência que aprendeu, mais do que profissão, seria bússola para compreender os meandros geopolíticos do mundo. Mas foi na política que José Eduardo se inscreveu com mais intensidade.

Assumiu a presidência de Angola em 1979, após a morte de Agostinho Neto, e permaneceu no poder durante 38 anos. Governou num tempo em que o mundo mudava — de Guerra Fria ao advento do neoliberalismo global — e Angola aprendia a ser república, a curar feridas da guerra, a descobrir-se Estado. Entre as contradições e complexidades do seu tempo, construiu pontes com o mundo, aproximou Angola dos grandes fóruns internacionais e afirmou o país como um interlocutor estratégico no tabuleiro africano e global.

A diplomacia de Zé Du era feita de silêncio e astúcia. Preferia o diálogo aos holofotes, os bastidores à exposição. E foi por essa via que ajudou a tecer a paz possível num continente tantas vezes esfacelado por interesses estrangeiros e internos. Com ele, Angola viu o fim da guerra civil em 2002, e iniciou-se um processo de reconstrução nacional. Foi sob a sua liderança que se ergueram infraestruturas, que a paz se tornou bandeira, e que a cultura ganhou espaço como elo de identidade nacional.

José Eduardo compreendia o poder da cultura. Durante o seu mandato, viu-se uma aposta crescente na formação de quadros, na produção intelectual, no resgate de símbolos e narrativas africanas. Promoveu o papel de Angola no diálogo sul-sul, valorizou a pertença africana e impulsionou um olhar para dentro, que resgatasse a dignidade do ser africano, não como caricatura, mas como sujeito do seu destino.

O seu legado não está isento de críticas, de sombras ou de silêncios. Nenhuma figura que marca profundamente a história o está. Mas entre os acertos e as omissões, entre as grandezas e as falhas, ficou uma convicção que o acompanhou até aos últimos dias: “Gostaria de ser lembrado como um bom patriota”.

Morreu a 8 de Julho de 2022, em Barcelona. E hoje, África, e particularmente Angola, continuam a pensar-se no espelho do seu tempo. O tempo de Zé Du, o tempo da paz possível, o tempo de um Estado que se reinventava, entre as dores de um nascimento tardio e as promessas de um porvir africano.

José Eduardo dos Santos não foi apenas um presidente. Foi um capítulo inteiro da história de Angola — com silêncio, sim, mas também com verbo, com visão, com África no horizonte.

6galeria

Gilberto Tadeu

Redactor

Redactor

Ele dizia que gostaria de ser lembrado como “um bom patriota”. E é nesse eco discreto, firme e visionário que se inscreve o nome de José Eduardo dos Santos, Zé Du, no livro da história angolana e africana.

Nascido a 28 de Agosto de 1942, no bairro popular de Sambizanga, em Luanda, José Eduardo dos Santos percorreu um caminho que transcendeu fronteiras. Filho do musseque e da resistência, partiu ainda jovem para o exílio, onde fundiu a fome de justiça social com o engenho técnico, tornando-se engenheiro de petróleos formado na então União Soviética. A ciência que aprendeu, mais do que profissão, seria bússola para compreender os meandros geopolíticos do mundo. Mas foi na política que José Eduardo se inscreveu com mais intensidade.

Assumiu a presidência de Angola em 1979, após a morte de Agostinho Neto, e permaneceu no poder durante 38 anos. Governou num tempo em que o mundo mudava — de Guerra Fria ao advento do neoliberalismo global — e Angola aprendia a ser república, a curar feridas da guerra, a descobrir-se Estado. Entre as contradições e complexidades do seu tempo, construiu pontes com o mundo, aproximou Angola dos grandes fóruns internacionais e afirmou o país como um interlocutor estratégico no tabuleiro africano e global.

A diplomacia de Zé Du era feita de silêncio e astúcia. Preferia o diálogo aos holofotes, os bastidores à exposição. E foi por essa via que ajudou a tecer a paz possível num continente tantas vezes esfacelado por interesses estrangeiros e internos. Com ele, Angola viu o fim da guerra civil em 2002, e iniciou-se um processo de reconstrução nacional. Foi sob a sua liderança que se ergueram infraestruturas, que a paz se tornou bandeira, e que a cultura ganhou espaço como elo de identidade nacional.

José Eduardo compreendia o poder da cultura. Durante o seu mandato, viu-se uma aposta crescente na formação de quadros, na produção intelectual, no resgate de símbolos e narrativas africanas. Promoveu o papel de Angola no diálogo sul-sul, valorizou a pertença africana e impulsionou um olhar para dentro, que resgatasse a dignidade do ser africano, não como caricatura, mas como sujeito do seu destino.

O seu legado não está isento de críticas, de sombras ou de silêncios. Nenhuma figura que marca profundamente a história o está. Mas entre os acertos e as omissões, entre as grandezas e as falhas, ficou uma convicção que o acompanhou até aos últimos dias: “Gostaria de ser lembrado como um bom patriota”.

Morreu a 8 de Julho de 2022, em Barcelona. E hoje, África, e particularmente Angola, continuam a pensar-se no espelho do seu tempo. O tempo de Zé Du, o tempo da paz possível, o tempo de um Estado que se reinventava, entre as dores de um nascimento tardio e as promessas de um porvir africano.

José Eduardo dos Santos não foi apenas um presidente. Foi um capítulo inteiro da história de Angola — com silêncio, sim, mas também com verbo, com visão, com África no horizonte.

6galeria

Artigos relacionados

Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form