As reflexões do Professor Laurindo Vieira sobre a intrínseca relação entre pobreza e desenvolvimento cognitivo ecoam com ainda mais força em Angola, especialmente após a sua trágica e prematura partida.

Em uma de suas lúcidas observações, Laurindo Vieira salientou a necessidade de olharmos para além das métricas puramente econômicas ao discutirmos o desenvolvimento de uma nação.

"A pobreza tem implicações no desenvolvimento cognitivo das pessoas, nos falamos muito do desenvolvimento económico, falamos muito do desenvolvimento moral, do desenvolvimento industrial, todas as formas e desenvolvimento, falamos da agricultura, mas muitas vezes nos esquecemos, com que se uma sociedade tivesse trints-cinco milhões de habitantes, e pelo menos, vinte milhões estão no linear da pobreza, eles têm problemas cognitivos, porque eles passam a vida a pensar nos meios de subsistência, como é que vão sobreviver. Na segunda-feira, ele vai pensar o quê que ele vai comer na terça-feira, ou o quê que ele vai jantar, então a função económica é fundamental."

Quando a preocupação diária é garantir a próxima refeição, o espaço para o planeamento a longo prazo, o desenvolvimento de novas ideias ou a participação cívica plena fica drasticamente reduzido.

No contexto actual de Angola, ignorar esta dimensão cognitiva da pobreza significa subestimar um dos principais obstáculos ao desenvolvimento sustentável e à plena realização do potencial do país.

Refira-se que,  Laurindo Vieira, foi vítima de um disparo letal em 11 de janeiro de 2024. Sua capacidade de análise crítica ,  e a sua dedicação em propor soluções para o país,  deixam uma lacuna imensa.