Biografia

O último romântico da política: Pepe Mujica, o homem que deu poesia ao poder

O último romântico da política: Pepe Mujica, o homem que deu poesia ao poder
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Num mundo onde o poder frequentemente se mede por carros blindados, palácios espelhados e contas em paraísos fiscais, José Alberto Mujica Cordano, ou simplesmente "Pepe Mujica",desafiou o guião. Em vez de escoltas, tinha um Fusca azul. Em vez de uma mansão presidencial, vivia numa modesta chácara com chão de terra batida, rodeado por cães, flores e livros. Foi Presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, mas parecia ter vindo de outro tempo, de um lugar onde os valores ainda eram pesados pela dignidade e não pelo saldo bancário.

Nascido a 20 de Maio de 1935, em Montevideu, filho de um pequeno agricultor falido e de uma mãe basca que o criou entre hortas e histórias de resistência, Mujica foi, desde cedo, o retrato da rebeldia com causa. Lutou contra a ditadura militar nos anos 60 e 70 como guerrilheiro do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros. Foi preso, baleado seis vezes e passou quase 15 anos encarcerado – sete deles em total isolamento. Sobreviveu. Talvez porque já sabia que o sofrimento, quando bem digerido, pode parir líderes com profundidade rara.

“Fui preso por pensar diferente, mas nunca perdi a ternura”, dizia, como quem transforma o trauma em sabedoria.

Na redemocratização do Uruguai, em 1985, Pepe não escolheu o conforto da aposentação silenciosa. Voltou à política institucional com uma visão depurada pelo cárcere. Fundou o Movimento de Participação Popular (MPP) e, já nos anos 2000, tornou-se uma das figuras mais influentes da Frente Ampla, coligação progressista que mudaria os rumos do país.

Chegado à presidência, não levou a faixa como troféu. Levou o povo. Legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, regulou o mercado da canábis, defendeu o aborto legal e investiu fortemente na inclusão social. Tudo isso num tom sereno, quase camponês, como quem planta ideias e colhe dignidade.

Pepe não foi apenas um presidente. Foi um filósofo prático, um sábio de botas sujas. Falava do consumo como quem denuncia uma febre, do amor como quem viveu o ódio. “Pobre não é quem tem pouco. Pobre é quem precisa de muito para ser feliz”, dizia, em entrevistas que se tornavam manifestos.

E mesmo fora do poder, seguiu a inspirar. Abandonou o Senado em 2020, “por cansaço da política”, mas nunca deixou de ser farol moral num continente tantas vezes marcado por autoritarismo, vaidade e corrupção. Até ao fim, manteve a alma leve e a voz firme.

Em Abril de 2024, anunciou que fora diagnosticado com um cancro no esófago. Em Maio de 2025, o mundo despediu-se dele. Mas como se despede um homem que já era eterno em vida? A resposta talvez esteja no silêncio das multidões, no respeito dos adversários e nas lágrimas dos humildes que sempre viram nele alguém igual.

Pepe Mujica morreu, sim. Mas deixou-nos algo raro: um legado vivo. O legado de quem provou que é possível governar com as mãos limpas, a consciência tranquila e o coração comprometido. Um político-poeta. Um camponês de Estado. Um homem que fez da simplicidade o seu acto mais revolucionário.

Não foi perfeito, nem quis parecer. Mas talvez por isso mesmo tenha sido um dos maiores.

Reflexão para os nossos leitores do Ongoma News:

Num tempo em que tantos desejam o poder para afastar-se do povo, Mujica fez o contrário: aproximou-se. A pergunta que fica é esta: será possível, em África ou noutra parte do mundo, um líder manter-se íntegro, simples e fiel aos seus valores até ao fim?

Que lições nos deixa Pepe Mujica — e estaremos dispostos a segui-las?

Se deseja partilhar este legado com alguém que acredita que a política pode ser feita com humanidade, envie este artigo. E não se esqueça de deixar o seu comentário: o mundo ainda está pronto para líderes como Pepe Mujica?

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Gilberto Tadeu

Redactor

Redactor

Num mundo onde o poder frequentemente se mede por carros blindados, palácios espelhados e contas em paraísos fiscais, José Alberto Mujica Cordano, ou simplesmente "Pepe Mujica",desafiou o guião. Em vez de escoltas, tinha um Fusca azul. Em vez de uma mansão presidencial, vivia numa modesta chácara com chão de terra batida, rodeado por cães, flores e livros. Foi Presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, mas parecia ter vindo de outro tempo, de um lugar onde os valores ainda eram pesados pela dignidade e não pelo saldo bancário.

Nascido a 20 de Maio de 1935, em Montevideu, filho de um pequeno agricultor falido e de uma mãe basca que o criou entre hortas e histórias de resistência, Mujica foi, desde cedo, o retrato da rebeldia com causa. Lutou contra a ditadura militar nos anos 60 e 70 como guerrilheiro do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros. Foi preso, baleado seis vezes e passou quase 15 anos encarcerado – sete deles em total isolamento. Sobreviveu. Talvez porque já sabia que o sofrimento, quando bem digerido, pode parir líderes com profundidade rara.

“Fui preso por pensar diferente, mas nunca perdi a ternura”, dizia, como quem transforma o trauma em sabedoria.

Na redemocratização do Uruguai, em 1985, Pepe não escolheu o conforto da aposentação silenciosa. Voltou à política institucional com uma visão depurada pelo cárcere. Fundou o Movimento de Participação Popular (MPP) e, já nos anos 2000, tornou-se uma das figuras mais influentes da Frente Ampla, coligação progressista que mudaria os rumos do país.

Chegado à presidência, não levou a faixa como troféu. Levou o povo. Legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, regulou o mercado da canábis, defendeu o aborto legal e investiu fortemente na inclusão social. Tudo isso num tom sereno, quase camponês, como quem planta ideias e colhe dignidade.

Pepe não foi apenas um presidente. Foi um filósofo prático, um sábio de botas sujas. Falava do consumo como quem denuncia uma febre, do amor como quem viveu o ódio. “Pobre não é quem tem pouco. Pobre é quem precisa de muito para ser feliz”, dizia, em entrevistas que se tornavam manifestos.

E mesmo fora do poder, seguiu a inspirar. Abandonou o Senado em 2020, “por cansaço da política”, mas nunca deixou de ser farol moral num continente tantas vezes marcado por autoritarismo, vaidade e corrupção. Até ao fim, manteve a alma leve e a voz firme.

Em Abril de 2024, anunciou que fora diagnosticado com um cancro no esófago. Em Maio de 2025, o mundo despediu-se dele. Mas como se despede um homem que já era eterno em vida? A resposta talvez esteja no silêncio das multidões, no respeito dos adversários e nas lágrimas dos humildes que sempre viram nele alguém igual.

Pepe Mujica morreu, sim. Mas deixou-nos algo raro: um legado vivo. O legado de quem provou que é possível governar com as mãos limpas, a consciência tranquila e o coração comprometido. Um político-poeta. Um camponês de Estado. Um homem que fez da simplicidade o seu acto mais revolucionário.

Não foi perfeito, nem quis parecer. Mas talvez por isso mesmo tenha sido um dos maiores.

Reflexão para os nossos leitores do Ongoma News:

Num tempo em que tantos desejam o poder para afastar-se do povo, Mujica fez o contrário: aproximou-se. A pergunta que fica é esta: será possível, em África ou noutra parte do mundo, um líder manter-se íntegro, simples e fiel aos seus valores até ao fim?

Que lições nos deixa Pepe Mujica — e estaremos dispostos a segui-las?

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