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Precioso Domingos constesta que investigação científica no país esteja “reduzida a trabalhos de fim de curso”

Precioso Domingos constesta que investigação científica no país esteja “reduzida a trabalhos de fim de curso”
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Carlos Aguiar - Economia & Mercado

O docente universitário Precioso Domingo considera “extremos” os resultados do estudo sobre  a "Implicação do Sector Privado no Ensino Superior e na Investigação Científica em Angola", de acordo com os quais a investigação científica no país está reduzida a trabalhos de fim de curso, no âmbito das licenciaturas.

Segundo uma notícia divulgada hoje pela Lusa, o estudo sobre a "Implicação do Sector Privado no Ensino Superior e na Investigação Científica em Angola", da iniciativa do Ministério do Ensino Superior, elaborado por uma consultora francesa, recomenda a criação de um sistema nacional de garantia de qualidade do ensino superior, face às enormes fragilidades constatadas no sector.

No entanto, contactado pelo ONgoma News, o docente e pesquisador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, Precioso Domingos, reconheceu que muito ainda deve ser feito no domínio da investigação no país, mas considerou “extremos” os resultados do estudo divulgado hoje.

“Nós CEIC fazemos investigação, sobretudo na área das ciências sociais e económicas, e não temos dúvidas sobre a investigação que fazemos. Temos parceiros internacionais e os resultados das nossas pesquisas são publicados em títulos internacionais. Deste ponto de vista não temos dúvida sobre o que fazemos. Entretanto, enquanto CEIC, e olhando para a dimensão do país, reconhecemos que ainda é muito pouco. O país como um todo deveria ter muito mais investigação”, afirmou.

Precioso Domingos, entretanto, criticou o facto de a pesquisa apresentada hoje ser solicitada a uma instituição estrangeira, pois considera que no país existem pesquisadores com competência para realizar estudos desta natureza. “Sob este ponto-de-vista, o Governo não tem sido um bom exemplo, porque é o campeão em contratar consultores internacionais”, referiu.

O estudo publicado hoje foi financiado em 700 mil dólares pelo Banco Africano de Desenvolvimento e recomenda “a criação de um sistema nacional de garantia de qualidade do ensino superior em Angola, de um estatuto legal do docente e docente investigador e ainda a instauração de um quadro legislativo e regulamentar renovado”.

Segundo o pesquisador Habib Marande, citado pela Lusa, o sector do ensino superior necessita de um aperfeiçoamento de competências profissionais do corpo docente, para difundir a cultura universitária e científica. "Deve também ser criado um quadro nacional de certificação de diplomas do ensino superior privado e ainda uma plataforma de diálogo permanente ao mais alto nível", apontou.

“Monografias são uma fraude”

Ainda sobre os resultados do estudo encomendado pelo Ministério do Ensino Superior, Precioso Domingos considerou que, ao serem validados, demonstram uma preocupação, pois as “monografias em Angola são uma fraude”. “Na minha opinião elas não deveriam existir, devido à falta de maduridade dos estudantes, mesmo quando chegam ao último ano do curso. Em muitos casos, os próprios tutores, quando têm competência para superviosionar a qualidade dos trabalhos, não o fazem... Se calhar porque não são bem remunerados, ou porque, se calhar, têm sobrecarga de trabalho. Mas também temos casos de tutores que não têm competência”, lamentou.

O também economista voltou a criticar a contratação de instituições estrangeiras para fazer pesquisas no país. “Nós criticamos essa atitude do Governo de volta e meia estar a contactar consultores estrangeiros, para virem fazer trabalhos que poderiam ser assumidos por angolanos e por instituições nacionais. Muitos deles desconhecem a realidade nacional, e quando cá chegam não têm contacto directo com a mesma, sendo que, em alguns casos, limitam-se a fazer reuniões para auscultar as instituições locais que já dominam o assunto”.

Por fim, Precioso Domingos lamentou a falta de financiamento às instituições nacionais de investigação. “Não é fácil. O próprio Governo até agora não tem um plano muito coerente sobre este assunto, e nós somos um exemplo disso, porque receebemos financiamento da Noruega”, lembrou.

O docente é de opinião que seja criado um sistema de financiamento que não comprometa a isenção dos resultados. “Infelizmente, em Angola, quando se recebe dinheiro para a investigação, é para depois negociar-se as conclusões. E por isso não é de estranhar o facto de a Universidade Agostinho Neto, actualmente, estar quase sempre parada, porque volta e meia fica presa nas conclusões quando elas chocam com o poder político”.

Privados representam dois terços do ensino superior em Angola

De acordo com o professor e investigador francês Habib Marande, que procedeu à apresentação dos resultados do estudo, foi igualmente constatado que o sector privado representa dois terços do ensino superior em Angola, bem como imprecisões sobre uma universidade e um instituto superior.

Já para a Secretária de Estado do Ensino Superior de Angola, Maria Augusta Martins, também citada pela Lusa, o estudo enquadra-se nas medidas de políticas do sector do ensino superior constante no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, com vista a melhorar a planificação de desenvolvimento do sector.

Por sua vez, o representante residente do Banco Africano de Desenvolvimento em Angola, Septime Martin, disse que a instituição bancária financiou o estudo no quadro da parceria estratégica com o Governo de Angola, no sentido de contribuir para um melhor planeamento do ensino superior no país.

A inexistência de incentivos à investigação científica no país tem sido recorrentemente levantada por académicos do sector público e privado do ensino universitário do país.

Segundo dados divulgados, em Março, no acto ocficial de abertura do ano académico de 2017, as 24 universidades públicas e as 41 privadas disponibilizaram este ano 111.086 vagas para o ensino superior.

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Sebastião Vemba

Fundador e Director Editorial do ONgoma News

Jornalista, apaixonado pela escrita, fotografia e artes visuais. Tem interesses nas novas medias, formação e desenvolvimento comunitário.

O docente universitário Precioso Domingo considera “extremos” os resultados do estudo sobre  a "Implicação do Sector Privado no Ensino Superior e na Investigação Científica em Angola", de acordo com os quais a investigação científica no país está reduzida a trabalhos de fim de curso, no âmbito das licenciaturas.

Segundo uma notícia divulgada hoje pela Lusa, o estudo sobre a "Implicação do Sector Privado no Ensino Superior e na Investigação Científica em Angola", da iniciativa do Ministério do Ensino Superior, elaborado por uma consultora francesa, recomenda a criação de um sistema nacional de garantia de qualidade do ensino superior, face às enormes fragilidades constatadas no sector.

No entanto, contactado pelo ONgoma News, o docente e pesquisador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, Precioso Domingos, reconheceu que muito ainda deve ser feito no domínio da investigação no país, mas considerou “extremos” os resultados do estudo divulgado hoje.

“Nós CEIC fazemos investigação, sobretudo na área das ciências sociais e económicas, e não temos dúvidas sobre a investigação que fazemos. Temos parceiros internacionais e os resultados das nossas pesquisas são publicados em títulos internacionais. Deste ponto de vista não temos dúvida sobre o que fazemos. Entretanto, enquanto CEIC, e olhando para a dimensão do país, reconhecemos que ainda é muito pouco. O país como um todo deveria ter muito mais investigação”, afirmou.

Precioso Domingos, entretanto, criticou o facto de a pesquisa apresentada hoje ser solicitada a uma instituição estrangeira, pois considera que no país existem pesquisadores com competência para realizar estudos desta natureza. “Sob este ponto-de-vista, o Governo não tem sido um bom exemplo, porque é o campeão em contratar consultores internacionais”, referiu.

O estudo publicado hoje foi financiado em 700 mil dólares pelo Banco Africano de Desenvolvimento e recomenda “a criação de um sistema nacional de garantia de qualidade do ensino superior em Angola, de um estatuto legal do docente e docente investigador e ainda a instauração de um quadro legislativo e regulamentar renovado”.

Segundo o pesquisador Habib Marande, citado pela Lusa, o sector do ensino superior necessita de um aperfeiçoamento de competências profissionais do corpo docente, para difundir a cultura universitária e científica. "Deve também ser criado um quadro nacional de certificação de diplomas do ensino superior privado e ainda uma plataforma de diálogo permanente ao mais alto nível", apontou.

“Monografias são uma fraude”

Ainda sobre os resultados do estudo encomendado pelo Ministério do Ensino Superior, Precioso Domingos considerou que, ao serem validados, demonstram uma preocupação, pois as “monografias em Angola são uma fraude”. “Na minha opinião elas não deveriam existir, devido à falta de maduridade dos estudantes, mesmo quando chegam ao último ano do curso. Em muitos casos, os próprios tutores, quando têm competência para superviosionar a qualidade dos trabalhos, não o fazem... Se calhar porque não são bem remunerados, ou porque, se calhar, têm sobrecarga de trabalho. Mas também temos casos de tutores que não têm competência”, lamentou.

O também economista voltou a criticar a contratação de instituições estrangeiras para fazer pesquisas no país. “Nós criticamos essa atitude do Governo de volta e meia estar a contactar consultores estrangeiros, para virem fazer trabalhos que poderiam ser assumidos por angolanos e por instituições nacionais. Muitos deles desconhecem a realidade nacional, e quando cá chegam não têm contacto directo com a mesma, sendo que, em alguns casos, limitam-se a fazer reuniões para auscultar as instituições locais que já dominam o assunto”.

Por fim, Precioso Domingos lamentou a falta de financiamento às instituições nacionais de investigação. “Não é fácil. O próprio Governo até agora não tem um plano muito coerente sobre este assunto, e nós somos um exemplo disso, porque receebemos financiamento da Noruega”, lembrou.

O docente é de opinião que seja criado um sistema de financiamento que não comprometa a isenção dos resultados. “Infelizmente, em Angola, quando se recebe dinheiro para a investigação, é para depois negociar-se as conclusões. E por isso não é de estranhar o facto de a Universidade Agostinho Neto, actualmente, estar quase sempre parada, porque volta e meia fica presa nas conclusões quando elas chocam com o poder político”.

Privados representam dois terços do ensino superior em Angola

De acordo com o professor e investigador francês Habib Marande, que procedeu à apresentação dos resultados do estudo, foi igualmente constatado que o sector privado representa dois terços do ensino superior em Angola, bem como imprecisões sobre uma universidade e um instituto superior.

Já para a Secretária de Estado do Ensino Superior de Angola, Maria Augusta Martins, também citada pela Lusa, o estudo enquadra-se nas medidas de políticas do sector do ensino superior constante no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, com vista a melhorar a planificação de desenvolvimento do sector.

Por sua vez, o representante residente do Banco Africano de Desenvolvimento em Angola, Septime Martin, disse que a instituição bancária financiou o estudo no quadro da parceria estratégica com o Governo de Angola, no sentido de contribuir para um melhor planeamento do ensino superior no país.

A inexistência de incentivos à investigação científica no país tem sido recorrentemente levantada por académicos do sector público e privado do ensino universitário do país.

Segundo dados divulgados, em Março, no acto ocficial de abertura do ano académico de 2017, as 24 universidades públicas e as 41 privadas disponibilizaram este ano 111.086 vagas para o ensino superior.

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